Duas das principais companhias de transporte marítimo – a CMA CGM e a Maersk – efetuaram testes através do Canal do Suez, abrindo, assim, a possibilidade de reabertura da rota do Mar Vermelho, interrompida em 2023 na sequência dos ataques protagonizados por rebeldes hutis. No entanto, os outros grandes operadores estão a reagir com prudência, não sendo possível adiantar se 2026 será o ano do regresso.
Em novembro, a CMA CGM enviou três porta-contentores de grande porte através deste corredor marítimo, com o objetivo de avaliar os tempos e a segurança da rota, mas ainda sem anunciar uma data para retomar os serviços na totalidade. Anunciou, contudo, que, a partir de 15 de janeiro, o seu serviço Indamex, entre a Índia/Paquistão e a costa este dos Estados Unidos fará a viagem pelo canal, nos dois sentidos.
Esta quinta-feira, 22 de dezembro, foi a vez de a Maersk dar conta de que, nos dias 18 e 19, o navio Maersk Sebarok, com bandeira de Singapura, navegou entre o Estreito de Bad el-Mandeb e o Mar Vermelho. “A segurança da nossa tripulação, dos navios e da carga são da maior importância para nós, tendo sido aplicada as medidas máximas de segurança durante a viagem”, indica, em comunicado.
Ressalva, porém, que, apesar de este passo ser significativo, não quer dizer que a empresa esteja a considerar, nesta fase, o regresso ao Canal do Suez. “Assumindo que as garantias de segurança vão continuar a ser dadas, estamos a considerar prosseguir com esta abordagem progressiva em direção a uma retoma da rota. O primeiro passo foi esta viagem, mas, de momento, não há outras planeadas”, destaca.
Em meados de novembro, a Maersk assinou um acordo de parceria com a Autoridade do Canal do Suez (SCA, na sigla inglesa), assinalando a sua intenção de resumir os trânsitos “assim que as condições o permitam”.
A SCA tem convidado as companhias marítimas a fazer viagens de teste no setor sul do canal, como parte dos esforços para um regresso faseado. Em resultado, o tráfego subiu, mas é ainda distante dos cerca de 500 navios por semana que passavam o canal antes dos conflitos.
Apesar destas experiências, os transportadores continuam a guiar-se pela prudência. É o caso da ZIM, que, numa declaração, disse estar pronta para regressar ao canal “assim que possível”, mas apenas se as seguradoras derem autorização. Por sua vez, a Hapag-Lloyd já manifestou que o regresso “ainda não está à vista”, apesar da abertura diplomática e operacional da SCA.
Numa leitura destes movimentos casuísticos, a consultora Xeneta, especializada em supply chain, sublinhou que ainda se está longe do regresso, em larga escala, do trânsito de porta-contentores ao Mar Vermelho, embora estas viagens constituam “um passo notável na direção certa”.
“As companhias vão proceder à avaliação de risco, mas a situação de segurança permanece frágil. Essa avaliação vai abranger a capacidade, oportunidade e intenção de atacar navios por parte dos hutis. Sabemos que têm a capacidade, mas as transportadoras vão exigir garantias relativamente às intenções, sobretudo porque a oportunidade vai aumentar à medida que mais navios começarem a navegar na região”, contextualizou o analista Peter Sand.
O especialista alertou, ainda, para outras consequências de um regresso em larga escala: é que tempos de trânsito menores significam que menos navios são necessários para as operações, o que pode resultar em excesso de capacidade. Deu como exemplo o serviço Indamex, da CMA CGM, cujo tempo de trânsito diminuirá duas vezes na rota pelo Mar Vermelho, o que tornará dois navios redundantes.
Também as transportadoras aéreas poderão ser afetadas. Desde a crise no corredor marítimo que têm beneficiado de um aumento de carga entre África e a Europa, mas, se o Canal do Suez reabrir em pleno, é expectável que o negócio seja afetado.
O Canal do Suez constitui a rota mais rápida entra a Europa e a Ásia e, antes dos ataques, correspondia a cerca de 10% de todo o comércio marítimo, de acordo com a Clarksons Research.



