Neste artigo de opinião, Sérgio Gonçalves, Security Manager da Logista, partilha o seu ponto de vista sobre a forma como a segurança logística evoluiu de uma função técnica para um fator estratégico e reputacional. Com base na sua experiência, defende que rastreabilidade e transparência são hoje pilares essenciais para garantir confiança, antecipar riscos e responder às exigências crescentes do mercado e da regulação. Saiba porquê.
Num mundo onde as cadeias de abastecimento se tornaram cada vez mais complexas, dispersas e interdependentes, a segurança logística deixou de ser apenas um assunto técnico. Hoje, ela é uma questão estratégica e até reputacional para empresas que desejam competir num mercado global exigente. Entre os fatores que mais influenciam esta nova realidade, destacam-se dois pilares fundamentais: a rastreabilidade e a transparência.
A rastreabilidade, que há uns anos era vista apenas como uma obrigação documental ou uma ferramenta de controlo interno, transforma-se agora num valor tangível. Poder acompanhar a mercadoria desde a origem até ao destino final não é apenas útil para resolver problemas quando eles surgem, mas sim uma forma de os evitar. Saber exatamente onde está um produto, em que condições viaja, quem intervém na sua manipulação e que procedimentos foram seguidos permite não só garantir qualidade e segurança, mas também responder rapidamente em casos de incidentes.
A transparência, por outro lado, não é apenas um requisito técnico, mas um compromisso ético. Os consumidores estão cada vez mais atentos à origem dos produtos que compram, às práticas laborais envolvidas na produção e aos impactos ambientais do transporte. Do mesmo modo, as empresas-clientes exigem garantias sobre o cumprimento de normas legais e de padrões de sustentabilidade. A falta de transparência não é apenas mal vista: é punida pelo mercado, seja através da perda de confiança, de contratos ou de valor de marca.
A integração entre rastreabilidade e transparência está, em grande parte, a ser viabilizada pela digitalização. Tecnologias como IoT, blockchain, sensores inteligentes, sistemas de geolocalização e plataformas de gestão integrada permitem recolher, validar e partilhar dados em tempo real. No entanto, importa notar que tecnologia por si só não resolve tudo. É necessário existir cultura organizacional, processos claros e uma visão estratégica que coloque a confiança e a responsabilidade no centro da ação.
Além disso, a exigência regulatória está a aumentar. Governos e organizações internacionais têm vindo a impor requisitos mais rigorosos sobre o controlo de origem, certificações e relatórios de conformidade. Setores como o alimentar e o farmacêutico já vivem esta realidade de forma intensa, e é expectável que outros sigam o mesmo caminho. Para muitas empresas, deixar para depois pode significar enfrentar penalizações, embargos ou exclusão de mercados estratégicos. Antecipar estas exigências não é apenas uma questão de cumprimento legal, mas de visão de futuro.
É importante recordar que a confiança é um dos bens mais valiosos nas relações empresariais. Num ecossistema logístico que envolve múltiplos intervenientes, desde fornecedores, transportadores, operadores portuários, distribuidores e clientes finais, a forma como a informação é partilhada influencia diretamente a eficiência e a credibilidade da operação. Empresas que se recusam a abrir os seus processos ou que não conseguem provar a integridade das suas cadeias arriscam-se a ser vistas como parceiros pouco fiáveis. Pelo contrário, aquelas que assumem a rastreabilidade e a transparência como valores centrais destacam-se pela solidez e responsabilidade.
Adotar estes pilares implica investimento, adaptação e, por vezes, mudança profunda de mentalidades. Mas o custo de não o fazer é incomparavelmente maior. Num mundo onde a informação flui rapidamente e a competitividade é feroz, esconder, omitir ou simplesmente desconhecer o que acontece ao longo da cadeia logística não é uma opção.
A segurança logística do futuro não será garantida por muros mais altos ou por controlo mais rígido, mas pela capacidade de ver, compreender e agir com transparência. Rastreabilidade e transparência não são apenas tendências: são a nova base da confiança entre empresas, parceiros e consumidores.
Sérgio Gonçalves, Country Security Manager | Logista



