Morreu Lídia Sequeira, uma mulher cuja vida e carreira estiveram profundamente ligadas à história recente dos transportes e da gestão portuária em Portugal. A sua partida deixa um vazio simbólico: raramente um nome personificou com tanta clareza a transição da logística portuária nacional para a era da modernidade.

 

Maria Lídia Ferreira Sequeira teve uma carreira de pioneirismo e compromisso. Licenciada em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, iniciou o seu percurso na então Direção‑Geral dos Transportes Terrestres, onde desempenhou papéis de relevo como diretora do Gabinete de Estudos e Planeamento e Sub-Diretora-Geral, funções que ocupou entre 1972 e 1996.

Posteriormente assumiu a gestão setorial do fundo de coesão dedicado aos transportes (1997–2004), exercendo um papel essencial na canalização de investimentos estruturais para o setor.

Em 2005, foi nomeada Presidente do Conselho de Administração do Porto de Sines, cargo que manteve até 2013. Com ela ao leme, Sines transformou-se num porto de “quarta geração”, com práticas de gestão modernas, maior produtividade e um claro enfoque na competitividade internacional, nomeadamente através da consolidação e expansão do terminal de contentores.

Foi precisamente esse impulso que permitiu ao porto afirmar-se como um dos pilares da rede logística nacional, projetando Portugal como porto-alvo natural nos mapas do comércio global.

Em 2016, quando o modelo organizacional mudou para uma administração conjunta dos portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, Lídia Sequeira foi escolhida para presidir a esse desafio, um sinal claro da confiança que inspirava. Manteve-se no cargo até fevereiro de 2021, quando saiu a seu pedido.

Durante esse período, procurou conciliar os diferentes perfis portuários com uma visão integrada de logística, competitividade e modernização, algo essencial para uma rede portuária nacional coerente e robusta.

 

Reconhecimento e um legado que perdura

Ao longo da sua carreira, Lídia Sequeira recebeu várias distinções. Em 2014 foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, reconhecimento à sua dedicação e impacto na modernização dos portos e dos transportes.

Além disso, foi distinguida com o prémio de “Líder na Gestão de Empresa Pública”, um reflexo do respeito e da admiração que granjeou ao longo dos anos junto do setor público e privado.

Mais do que os cargos ou condecorações, o que realmente define o legado de Lídia Sequeira é a transformação concreta que ajudou a desencadear: portos mais competitivos, gestão mais profissionalizada, inserção global de infraestruturas nacionais. A sua visão ultrapassou o curto prazo e moldou uma base para o futuro do transporte marítimo e da logística em Portugal.

Para muitos que hoje navegam, transportam ou planeiam cadeias de abastecimento, Sines, Lisboa ou Setúbal já não são apenas terra firme ou cais. São herança de um trabalho que combinou firmeza com visão.

Lídia Sequeira partiu, mas fica o espólio de uma ambição realizada: converter portos em faróis de progresso.