Aschaffenburg recebeu-nos com duas versões da mesma história: a da tradição e a do futuro. Na véspera, no imponente Castelo de Johannisburg, uma das maiores estruturas renascentistas de arenito vermelho da Alemanha, a Linde Material Handling abriu as portas a jornalistas da EMEA, num ambiente que respirava história, permanência e solidez. No dia seguinte, já dentro do Linde Experience Hub, o cenário era o oposto: robótica, IA aplicada, digital twins e veículos autónomos em ação. Entre o castelo e o laboratório vivo de automação, o contraste não podia ser maior e era precisamente essa a mensagem: a intralogística está a atravessar um dos seus maiores saltos e a Linde quis mostrar-nos isso de dentro para fora, começando pela memória do passado e levando-nos de seguida diretamente para o armazém do futuro.
Na sessão de abertura, Ulrike Just, Executive Vice President Sales & Services EMEA, sublinhou que “nunca houve um momento melhor para investir na automação”, apontando três fatores principais: sistemas mais fáceis de usar, soluções mais competitivas e tempos de projeto significativamente mais curtos.
Nos últimos dois anos, a fabricante redesenhou várias das suas linhas-chave, alinhando-as com um padrão industrial comum e integrando-as num ecossistema modular que inclui AMR, soluções shuttle, automação estacionária e sistemas de estanteria. A ideia é oferecer um “kit de construção” do armazém com o qual seja possível desenhar projetos à medida, mas com base em blocos standard, reduzindo custos e prazos de implementação.
Do ponto de vista de produto, dois anúncios concentraram atenções: o Linde Robotic Case Picker (RoCaP) e a Linde E-MATIC, o primeiro empilhador contrapesado automatizado da marca.
O RoCaP, desenvolvido com a cadeia ROSSMANN, combina o L-MATIC HD k com um braço robótico de múltiplos eixos. O sistema retira caixas diretamente da estanteria e coloca-as na unidade de carga, concebido para trabalhar em ambientes mistos, lado a lado com empilhadores manuais, sem exigir alterações profundas de infraestrutura. Na operação da ROSSMANN, o objetivo é reduzir o esforço físico no picking de cargas pesadas e aumentar a produtividade.
Já a Linde E-MATIC representa um passo simbólico, ou seja, automatizar o “produto núcleo” da marca: o empilhador contrapesado. Concebida para operações exteriores, a máquina tem capacidade de 2,3 toneladas, bateria de iões de lítio, deslocamento lateral e um pacote completo de navegação e segurança. Os primeiros projetos de pré-série com clientes selecionados estão previstos para 2026, com lançamento em série apontado para 2027. O roadmap inclui, numa fase posterior, navegação contínua entre interior e exterior, gestão de inclinações mais acentuadas e tarefas como carga/descarga lateral de camiões e armazenagem em blocos.
Para além do hardware, o Summit funcionou também como montra para a aposta da Linde em IA aplicada e gémeos digitais, assente na parceria do grupo KION com a NVIDIA e a Accenture.
No evento, a Linde demonstrou a integração em tempo real entre um AGV físico e o seu gémeo digital na plataforma MEGA – NVIDIA Omniverse para aplicações industriais: cada movimento da máquina (navegação, manuseamento de carga…) era replicado no modelo virtual, permitindo simular cenários, otimizar rotas e testar layouts antes de intervir no armazém real.
Outro momento emblemático foi a captura 3D do armazém com um scanner portátil baseado em SLAM, montado num arnês de ombro. Em 40 a 60 minutos, é possível gerar um modelo tridimensional detalhado da instalação, com medições precisas de distâncias, corredores e inclinações de piso. Sobre esse modelo, equipas multidisciplinares podem trabalhar em conjunto, anotando zonas críticas e testando soluções, encurtando o ciclo entre estudo, projeto e comissionamento.
Na parte de software, a Linde apresentou o MATIC:move, uma plataforma low-code que permite desenhar fluxos de material sem necessidade de programação avançada, e o MATIC:move+, que acrescenta controlo inteligente de tráfego, interfaces alargadas e compatibilidade com o standard VDA-5050, integrando também sistemas de terceiros através do Linde Warehouse Manager. A promessa: reduzir o arranque de projetos de semanas para alguns dias e escalar desde um único veículo até frotas mistas complexas.
Três ideias-chave a reter
Desta viagem ao futuro em Aschaffenburg emergem três ideias centrais:
Dados como ativo crítico – Sem recolha e tratamento sistemático de dados de operação, não há otimização nem verdadeira orquestração de frotas, como sublinhou Torsten Rochelmeyer, Senior Director Strategy & Solution Portfolio, ao destacar que a automação “não é apenas ligar pontos entre A e B, mas desenhar o fluxo certo”.
Confiança no parceiro tecnológico – A automação exige partilha intensiva de informação operacional; para muitos operadores, a escolha do fornecedor passa tanto pela tecnologia como pela capacidade de consultoria, suporte e continuidade (“da conceção ao pós-arranque”), um argumento que a Linde procurou reforçar ao longo do Innovation Summit.
Do piloto à escala – A coexistência entre empilhadores manuais, veículos automatizados, robôs de picking e sistemas de gestão cada vez mais sofisticados mostra que o mercado está a sair da fase de “protótipos isolados” para uma lógica de projetos integrados, ainda que, na prática, muitas operações continuem a testar em ambientes controlados antes de generalizar.
É também claro que a Linde não está sozinha nesta corrida: outros fabricantes de equipamentos e integradores logísticos estão igualmente a apostar em gémeos digitais e IA física, para acelerar o desenho e a validação de soluções, frequentemente também com base no Omniverse da NVIDIA.
Para o leitor da Supply Chain Magazine, a mensagem de fundo é em certa medida dupla. Por um lado, a automação intralogística está a convergir para soluções mais modulares, escaláveis e “brownfield-friendly”; por outro, o fator decisivo deixa de ser apenas o equipamento e passa a ser a combinação entre software, dados, integração e know-how de projeto.
O Automation Summit 2025 posiciona a Linde Material Handling como um dos protagonistas desta transição. Caberá agora ao mercado – operadores, retalhistas, indústria e 3PL – testar até que ponto estas tecnologias conseguem, na prática, cumprir a promessa de mais eficiência, mais segurança e mais flexibilidade, sem perder de vista o papel fulcral das equipas no terreno.
Não perca a reportagem completa na edição de dezembro da SCM.



