A Associação dos Transitários de Portugal denuncia um cenário de disrupção total nos serviços de handling de carga aérea nos principais aeroportos nacionais, com atrasos, desvio de mercadorias para Madrid e impacto direto na competitividade da economia portuguesa.

A APAT – Associação dos Transitários de Portugal veio a público manifestar “profunda preocupação” com o que classifica como uma “grave disfunção operacional” nos serviços de handling de carga aérea em Portugal. Segundo a associação, a situação tem vindo a agravar-se nos últimos meses, traduzindo-se em atrasos significativos, constrangimentos logísticos e incapacidade de resposta por parte dos operadores de handling, nomeadamente nos aeroportos de Lisboa e Porto.

Os relatos recebidos pelos transitários associados apontam para um verdadeiro colapso operacional, que já obrigou ao desvio de carga para o Aeroporto de Madrid, onde é posteriormente embarcada e transportada. Esta realidade, afirma a APAT, representa perdas diretas para a economia nacional e para toda a cadeia logística que depende da eficiência dos terminais portugueses.

“Esta disrupção operacional tem obrigado ao desvio de carga para o Aeroporto de Madrid, o que acarreta perdas diretas para a economia nacional e fragiliza o papel de Portugal enquanto interface logístico estratégico”, refere a associação.

A APAT sublinha que a situação decorre de uma falta crónica de recursos humanos e técnicos, que se tornou estrutural e compromete a capacidade do país para assegurar fluxos logísticos regulares, eficientes e competitivos. “Do transitário à empresa exportadora, passando pelo cliente final, todos perdem – o país, como um todo, perde”, sintetiza a associação.

Este novo alerta surge na sequência de um histórico de tensões entre os transitários e os operadores de handling, em particular a Menzies Aviation Portugal, acusada pela APAT de aplicar “taxas arbitrárias” sem correspondência com a qualidade do serviço prestado. Segundo a associação, “a aplicação de aumentos de preços injustificados foi um dos capítulos mais disruptivos de uma história de degradação progressiva do serviço”, agora agravada por uma “total disrupção operacional”.

O tempo médio de aceitação de carga em Lisboa, segundo relatos de associados, pode atingir várias horas de espera, o que se reflete em custos adicionais, atrasos na exportação e perda de confiança dos clientes internacionais.

A APAT recorda que tem vindo a alertar as autoridades competentes e reguladoras, nomeadamente a ANAC e o Governo, para a necessidade de intervenção urgente e medidas corretivas que assegurem regularidade, transparência e eficiência nos serviços aeroportuários.

Competitividade nacional em risco

A associação sublinha que esta disfunção “fragiliza o papel de Portugal como plataforma logística ágil e competitiva na ligação entre continentes”, numa altura em que o país procura posicionar-se como hub estratégico entre a Europa, África e a América do Sul.

“O setor aéreo deveria afirmar Portugal como uma plataforma privilegiada na ligação entre continentes e nas rotas comerciais internacionais. Neste momento, está a acontecer exatamente o contrário”, advoga a associação dos transitários portugueses.

Face ao impacto transversal sobre transitários, exportadores e operadores logísticos, a associação pede uma avaliação urgente da situação e a implementação de planos de contingência e reforço de capacidade que impeçam a continuidade desta disrupção.

O alerta da APAT surge num momento em que os serviços de handling em Portugal têm sido alvo de críticas crescentes por parte de sindicatos, empresas e operadores, devido à falta de pessoal e ao aumento de tarifas.

Em maio, o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA) descrevia o cenário como um “caos instalado” no terminal de carga da Menzies em Lisboa, com camiões à espera de descarregamento e falhas operacionais diárias. Além disso, o setor atravessa uma fase de transição de licenças de operação, depois de a Menzies ter perdido o concurso para o handling em Lisboa, Porto e Faro, segundo noticiou o Dinheiro Vivo em outubro.

Com este conjunto de fatores, cresce o receio de que Portugal perca competitividade face a outros mercados europeus, nomeadamente Espanha, que tem vindo a captar fluxos de carga aérea que anteriormente passavam pelos aeroportos nacionais.

A associação conclui o seu comunicado apelando às entidades responsáveis — nomeadamente a ANAC, a ANA Aeroportos e o Governo português — para que intervenham com urgência e garantam níveis mínimos de eficiência e previsibilidade no handling de carga: “É essencial assegurar a normalidade das operações e proteger o tecido exportador nacional”, defende a APAT.