Para contornar os novos custos alfandegários, os retalhistas estão a reduzir o volume das encomendas e a transferir para a Mattel a responsabilidade pelo armazenamento e importação dos brinquedos. O resultado: maior pressão sobre margens, mas também uma cadeia mais flexível e próxima do modelo just-in-time.

As tensões comerciais e as tarifas impostas pela administração norte-americana estão a obrigar a Mattel a repensar a forma como gere o aprovisionamento e a distribuição dos seus produtos. Segundo declarações do CFO Paul Ruh, feitas durante a conferência de resultados de 21 de outubro, os principais retalhistas optaram por substituir as importações diretas por envios domésticos mais frequentes e de menor volume, uma mudança que colocou a importação e o armazenamento de bens diretamente sob responsabilidade da Mattel.

“É um modelo mais just-in-time, com encomendas mais pequenas e frequentes”, explicou Paul Ruh, citado pelo Retail Dive. “Dada a nossa escala e capacidades de supply chain, o impacto económico é neutro para nós, o que não acontece com outros fabricantes mais dependentes de importações diretas.”

De acordo com a Reuters, esta mudança contribuiu para uma contração das margens brutas no terceiro trimestre, mas a empresa mantém otimismo para o final do ano. As existências da Mattel subiram para 827 milhões de dólares, mais 89 milhões face ao mesmo período de 2024, refletindo “custos relacionados com tarifas, variações cambiais e o aumento de stocks para responder à nova dinâmica de encomendas”. Já os inventários do retalho estão ligeiramente abaixo do registado há um ano, o que indica reposição gradual de stock antes da época natalícia.

“Os retalhistas estão a reabastecer-se para responder à procura esperada durante o Natal, o que é positivo para o final do ano”, referiu ainda o CFO.

O executivo adiantou também que o impacto total das tarifas deverá fazer-se sentir no quarto trimestre, e que a empresa já aumentou preços em conjunto com os retalhistas no início do verão para suavizar o efeito nas margens.

A leitura da Reuters e da Supply Chain Dive é clara: o caso da Mattel mostra como a função de procurement e supply chain podem ser determinantes para preservar a rentabilidade, num contexto de pressão tarifária e inflação logística. Ao assumir a importação e o armazenamento, a empresa está a internalizar parte dos riscos da cadeia e a reorganizar-se num modelo mais ágil e próximo do cliente final.

A fabricante de brinquedos continua a explorar estratégias de diversificação de sourcing e de mitigação cambial, de modo a manter flexibilidade face a eventuais novas medidas comerciais.

“Ainda não vimos o impacto total das tarifas, mas estamos preparados para responder com diferentes mecanismos, desde ajustes de preço a novas soluções de sourcing”, acrescentou Ruh.

O exemplo da Mattel pode servir de referência para equipas de procurement que enfrentam incerteza geopolítica e tarifária, sublinhando a importância de alinhar procurement, planeamento de stocks e transporte numa lógica de agilidade operacional e mitigação de risco.

🧾 Fontes:
  • Retail Dive (Daphne Howland & Philip Neuffer, 28 de outubro de 2025)

  • Reuters (“Barbie maker Mattel misses quarterly estimates amid tariff pressures”, 21 de outubro de 2025)

  • Mattel Q3 2025 Earnings Call Transcript

  • Supply Chain Dive (“Mattel feels tariff crunch as holidays near”, 28 de outubro de 2025)