A GS1 prepara o adeus ao código de barras e abre caminho à economia circular digitalizada. Durante a Logipack, que decorreu na FIL de 21 a 23 de outubro, a GS1 Portugal apresentou o sucessor do conhecido código de barras. Uma mudança que une digitalização, rastreabilidade e economia circular num único símbolo inteligente.

Foi durante a conferência promovida pela GS1 Portugal, ontem, 23 de outubro, no âmbito da Logipack, que se falou do “adeus anunciado” ao famoso código de barras. Sob o tema “A revolução na codificação dos bens de grande consumo: as oportunidades e desafios da codificação bidimensional”, a sessão contou com uma apresentação sobre a transição para a codificação 2D, a que se seguiu um debate dedicado à “Sustentabilidade, circularidade e legislação europeia: a longa vida dos materiais de embalagem”.

Coube a Raquel Abrantes, Diretora de Qualidade e Standards da GS1 Portugal, lançar a reflexão:

“O que queremos dizer quando falamos de códigos bidimensionais? Falamos de códigos que não são lineares, ou seja, deixamos o nosso código EAN tradicional e passamos a adotar códigos como um QR Code ou um Data Matrix, mas com toda a estrutura e o standard GS1 por trás.”

Cinco décadas depois de o código de barras ter ensinado as caixas de supermercado “a falar”, como lembrou a responsável, a GS1 prepara uma nova revolução. A partir de 2027, o sistema de codificação bidimensional será reconhecido como o novo standard global para identificação de produtos, marcando o início do fim do “velhinho” código de barras linear, aquele conjunto de riscas pretas que democratizou a automatização do retalho e das cadeias logísticas em todo o mundo.

A revolução bidimensional

Ao contrário do código 1D, que apenas armazena um número identificador (o GTIN), o novo código 2D é capaz de reunir, num único símbolo, uma multiplicidade de dados: número de lote e data de validade; origem do produto; dados de rastreabilidade; informação nutricional ou de sustentabilidade e até ligações dinâmicas a páginas digitais ou instruções de reciclagem.

“O código bidimensional traz consigo a vida digital do produto”, resume Raquel Abrantes. “Dá poder a este código para que o consumidor — ou qualquer stakeholder da cadeia — possa aceder à informação certa, no momento certo, através de um único código.”

Esta “nova geração de códigos”, como lhe chama a GS1, não é um simples QR Code promocional. A diferença está na norma: o QR Code powered by GS1 é estruturado de acordo com um identificador único, permitindo interoperabilidade global e leitura automatizada ao longo de toda a cadeia de abastecimento, do armazém à caixa de saída de um supermercado.

A mudança não é apenas tecnológica; é também operacional e ambiental. Na ótica da eficiência, o código bidimensional permite automatizar processos críticos como a gestão de lotes e validades, a prevenção de vendas de produtos fora de prazo ou a redução do desperdício alimentar.

“Com o código bidimensional, o retalhista consegue identificar automaticamente produtos próximos do fim da validade e aplicar descontos na caixa, sem necessidade de etiquetas adicionais”, exemplifica a diretora da GS1 Portugal. “É um ganho de eficiência, mas também de sustentabilidade, porque ajuda a reduzir desperdício.”

Para a indústria, o impacto é igualmente transformador: simplifica a rastreabilidade, facilita recalls e reduz a necessidade de múltiplas etiquetas. Onde antes existiam cinco ou seis linhas de código numa etiqueta logística, passará a bastar um único símbolo: uma matriz de dados que contém tudo.

Embalagem inteligente e economia circular

Mas é no cruzamento entre digitalização e sustentabilidade que a transformação ganha uma nova dimensão. A GS1 está a trabalhar com empresas e reguladores para que estes códigos sirvam também como ferramentas de circularidade: monitorizar o ciclo de vida de uma embalagem, as suas utilizações, a sua reciclagem ou o seu retorno ao sistema.

“Tudo o que é informação regulamentar, como instruções de reciclagem ou dados sobre reenchimento, pode agora ser integrado num único código”, sublinha Raquel Abrantes. “Assim, conseguimos garantir interoperabilidade entre sistemas e apoiar novos modelos de economia circular.”

E há exemplos internacionais que já o demonstram:

  • No Reino Unido, o código bidimensional está a ser usado para controlar sistemas de depósito e reembolso (SDR) em embalagens de leite, garantindo rastreabilidade unitária.

  • Na Coreia do Sul, a partir de 2026, as garrafas de água deixarão de ter rótulos, integrando toda a informação obrigatória num QR Code impresso na tampa.

  • Na América do Sul, projetos da Coca-Cola utilizam estes códigos para monitorizar garrafas PET reutilizáveis, garantindo que cada unidade cumpre o ciclo previsto de reenchimentos antes do fim de vida.

 

O novo QR Code GS1 é mais do que um símbolo: é uma linguagem universal entre produtos, pessoas e sistemas. Na loja, serve para automatizar processos e melhorar a experiência de compra. No armazém, otimiza fluxos e reduz erros de picking. Em casa, liga o consumidor a informação sobre sustentabilidade, nutrição ou reciclagem. E, no fim, quando o produto regressa à cadeia, o mesmo código permite acompanhar a sua reincorporação no ciclo produtivo.

“Esta transformação liga o mundo físico ao digital”, conclui Raquel Abrantes. “É o passo que faltava para garantir que a rastreabilidade, a transparência e a sustentabilidade se unem num mesmo sistema e num único código.”