O cessar fogo em Gaza e o acordo de paz, a manter-se, poderá abrir caminho à normalização da navegação via Suez, mas a insegurança no corredor marítimo mantém transportadoras afastadas e cautelosas, pelo menos para já.
O anúncio da primeira fase de um acordo de paz entre Israel e o Hamas, mediado pelos Estados Unidos, reacende a esperança de uma retoma gradual da navegação no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, corredores estratégicos que ligam o Mediterrâneo ao Índico através do Canal de Suez.
A retirada parcial das tropas israelitas de Gaza, a libertação dos reféns israelitas e um possível acordo de paz no horizonte abrem caminho para um regresso à normalidade nas rotas do comércio marítimo global, mas as companhias de navegação continuam reticentes quanto ao regresso às rotas do Mar Vermelho, ainda marcadas por instabilidade e risco de ataques.
Desde o final de 2023, a maioria das transportadoras tem optado por contornar o continente africano, aumentando o tempo de viagem em cerca de 10 a 14 dias e provocando subidas significativas nas tarifas de frete. Embora o cessar-fogo entre Estados Unidos e milícias Houthi, alcançado em maio, tenha reduzido o número de incidentes, a insegurança permanece elevada. O mais recente ataque, a 29 de setembro, causou a morte de um tripulante num cargueiro holandês.
“Mesmo após o cessar-fogo, as transportadoras não vão regressar ao Mar Vermelho até que a segurança esteja de facto restabelecida”, afirmou Vincent Clerc, CEO da Maersk, citado pela FreightWaves. Também Soren Toft, CEO da MSC, tem vindo a alertar para os riscos persistentes na zona e para a necessidade de garantias sólidas antes de retomarem o tráfego.
Além do fator segurança, há razões económicas para manter o desvio. O prolongamento das rotas pelo Cabo da Boa Esperança aumentou a utilização de capacidade e sustentou as tarifas em níveis elevados, um cenário que tem beneficiado financeiramente as principais companhias, mesmo com a recente queda da procura e a entrada de novos navios.
As bolsas também reagiram ao anúncio do cessar-fogo: as ações da Maersk, considerada um barómetro do comércio mundial, recuaram após a assinatura do acordo, refletindo as expectativas de descida das tarifas de frete e da rentabilidade das transportadoras. Recorde-se que, desde o final de 2023, os preços do transporte marítimo global triplicaram face aos níveis pré-crise, com forte impacto nas exportações asiáticas — a Índia, por exemplo, ultrapassou os 100 mil milhões de dólares anuais em custos de transporte.
O eventual regresso à rota do Suez poderá, contudo, alterar o equilíbrio do mercado, reduzindo custos e tempos de trânsito, mas também pressionando os preços de frete num contexto já marcado por excesso de oferta.
Por agora, a resposta à pergunta “Vai o Mar Vermelho reabrir?” parece ser não. Pelo menos, por agora, ainda não. A recuperação da segurança e da confiança operacional será, provavelmente, gradual e condicionada à evolução política e militar no terreno.