A indústria transformadora tornou-se um dos principais alvos do cibercrime, registando em 2025 uma média de 1.585 ataques semanais por organização, aproximadamente mais 30% do que no ano anterior. O impacto vai muito além da paragem de linhas de produção: traduz-se em perdas financeiras, danos reputacionais e até risco de insolvência. A cibersegurança deixou de ser apenas um tema de TI. É hoje um desafio de negócio ao mais alto nível.

Segundo a Check Point Research, as fábricas estão “no olho do furacão” entre a economia do ransomware, os conflitos geopolíticos e as disrupções globais das cadeias de abastecimento. Os atacantes sabem que, num setor onde cada hora de paragem pode custar milhões, a pressão para pagar resgates é enorme.

Para além das perdas financeiras imediatas, cada ataque desencadeia um efeito dominó: quebra de confiança, incumprimento de contratos, atraso na inovação e maior escrutínio regulatório. Alguns exemplos recentes ilustram a gravidade do problema:

  • Clorox (2023): perdas de 356 milhões de dólares após ataque de ransomware.

  • Nucor (2025): o maior produtor de aço da América do Norte viu a produção parar devido a uma intrusão.

  • Sensata Technologies (2025): paragem de expedições e atrasos nas entregas afetaram a relação com clientes.

  • Schumag AG (2024): fabricante alemão declarado insolvente após disrupções prolongadas.

Geopolítica à porta da fábrica

A complexidade das redes de fornecedores e parceiros expõe a indústria a riscos crescentes. Um único fornecedor vulnerável pode comprometer toda a linha de produção. Dispositivos IoT e sistemas OT mal protegidos ampliam os pontos de entrada para os atacantes.

Hoje, grupos criminosos vendem acessos roubados a redes industriais, permitindo a entrada de afiliados de ransomware. O impacto de uma única intrusão pode propagar-se a milhares de empresas e comprometer setores inteiros.

O risco não vem apenas do crime organizado. Atacantes patrocinados por Estados têm como alvo o roubo de propriedade intelectual e a disrupção estratégica. Planos de drones, designs automóveis e tecnologias de defesa já foram comprometidos. O resultado: perda de vantagem competitiva, fragilidade industrial e impactos económicos de longo prazo.

Com base no seu “The Manufacturing Security Report 2025”, a Check Point alerta: os líderes industriais não podem manter uma postura reativa. A cibersegurança é hoje um tema de administração, com impacto direto na resiliência e competitividade. Entre as prioridades recomendadas destacam-se:

  • Incorporar resiliência – encarar o tempo de paragem como risco estratégico e garantir planos de continuidade que funcionem em horas, não semanas.

  • Proteger a cadeia de abastecimento – exigir padrões de cibersegurança a fornecedores e parceiros, com visibilidade clara dos riscos de terceiros.

  • Defender a propriedade intelectual – investir em monitorização e prevenção de fuga de dados, assumindo que o IP é um dos principais alvos.

  • Adotar defesa proativa – ir além da conformidade, apostando em inteligência e prevenção para reduzir a probabilidade de disrupção.

 

Na indústria transformadora, tempo de atividade, confiança e inovação são fatores que determinam a quota de mercado. A cibersegurança já não é apenas um custo, é um diferenciador estratégico. Segundo a Check Point, os executivos que souberem agir hoje não estarão apenas a defender as suas linhas de produção, estarão a proteger o futuro do negócio e a garantir vantagem competitiva num ambiente global cada vez mais hostil.

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