Já está disponível a edição n.º 65 da Supply Chain Magazine, que assinala o 6.º aniversário da revista com um número especial em formato manifesto. Sob o mote “A supply chain que temos e a que queremos”, esta edição destaca tendências, protagonistas e transformações nas cadeias de abastecimento, lançando pistas para o futuro do setor. Mais do que celebrar a evolução da supply chain em Portugal, o objetivo é informar, provocar reflexão e apoiar os profissionais na tomada de decisões estratégicas.

Este mês, no editorial, refletimos sobre o que nos move. Ao setor, enquanto comunidade e grupo profissional, e a nós, enquanto órgão de informação especializado. Mais do que uma celebração de aniversário, esta é uma “edição manifesto” que olha para a supply chain como cultura, sistema nervoso e palco de decisões estratégicas. Uma reflexão sobre a forma como conceitos, tecnologias e pessoas evoluíram e sobre como a logística e a gestão da cadeia de abastecimento se têm vindo a transformar. No fundo, um convite à memória e ao impulso antes do próximo salto.

LOGÍSTICA – Movimento com Propósito

Este mês, a secção “LOGISTICA” percorre o fio condutor da evolução de um setor que deixou de ser invisível para se tornar estratégico.

A viagem começa com A ascensão da logística”, que revisita a revolução silenciosa vivida em Portugal: de parente pobre da gestão a função crítica na criação de valor, reconhecida como eixo central das organizações. A transformação é contada na primeira pessoa por pioneiros que ajudaram a dar voz e lugar à logística nas decisões estratégicas.

Segue-se o caso da La Redoute, exemplo vivo de reinvenção digital. Do catálogo em papel ao clique no ecrã, a empresa francesa fez da cadeia de abastecimento o motor da sua resiliência, ao conjugar tecnologia, centralização e foco no cliente. Um caso que mostra como a logística não só acompanha como lidera a mudança dos modelos de negócio.

Por fim, em “Radar do amanhã”, abrimos a lente para o futuro, com a ajuda de Pedro Chainho, Gisela Santos e Luís Freitas. O próximo salto da logística já não é apenas técnico ou operacional, mas sistémico: envolve empresas, tecnologias, pessoas e modelos que avançam juntos. Mais do que eficiência, o desafio é pensar a logística como cultura, estratégia e alavanca de competitividade no século XXI.

PROCUREMENT – Mais do que Negociar: Criar Valor

Se a logística em Portugal viveu uma revolução silenciosa, o procurement não ficou atrás. Em seis anos — os mesmos da SCM —, a função percorreu um caminho que confirma a célebre máxima de Camões: “Todo o mundo é composto de mudança.” O procurement transformou-se, deixou de ser apenas uma função de suporte e começa a afirmar-se como eixo central da competitividade das empresas e da própria administração pública.

Do passado recente às viragens decisivas

No balanço da última meia dúzia de anos, quatro profissionais da área destacam pontos de viragem que moldaram a evolução do procurement: desde a digitalização das práticas de sourcing até ao reforço da sustentabilidade como critério de decisão. A gestão de risco, antes um tema periférico, tornou-se agora central, sobretudo à luz da instabilidade geopolítica, climática e regulatória.

Um manifesto industrial

Mas o debate não se esgota nos processos de compra. Está em causa a própria configuração da cadeia de valor em Portugal. A análise de Pedro Caldeira  traça um diagnóstico claro: o país precisa de uma nova ambição industrial, capaz de transformar fornecedores em parceiros estratégicos. O procurement, longe de ser apenas transacional, surge como alavanca para esse movimento — garantindo competitividade, resiliência e modernidade a um tecido produtivo que sofreu com décadas de desindustrialização.

Olhar para 2030

Quando desafiados a projetar o futuro, Joaquim Oliveira (Deloitte), João Queirós (EY) e Pedro Pinto Barros (PwC) convergem num ponto: o procurement está em terreno fértil para se afirmar como ferramenta de criação de valor. As perspetivas variam — umas mais centradas na tecnologia, outras na sustentabilidade ou na gestão de riscos globais —, mas a convicção é comum: até 2030, a função poderá sair definitivamente da sombra, conquistando estatuto estratégico nos conselhos de administração.

Entrevista | César Pestana, presidente da eSPap

Essa centralidade já encontra expressão concreta na esfera pública. Só até junho de 2025, a eSPap gerou mais de 676 milhões de euros em poupança através da centralização das compras do Estado. Para César Pestana, presidente da entidade, a lógica do comprador público não é de mera eficiência administrativa, mas de qualidade da despesa: gastar melhor, garantindo impacto positivo para os cidadãos.

 

INTRALOGÍSTICA – No Coração Operacional
Casos práticos mostram que o futuro está na colaboração

A intralogística vive hoje um paradoxo interessante: nunca se falou tanto em automatização e robotização, mas também nunca se discutiu tanto o papel das pessoas. Se as novas tecnologias estão a transformar profundamente os processos repetitivos, libertando tempo e aumentando a eficiência, é igualmente verdade que a dimensão humana se tornou ainda mais relevante.

Dois exemplos ilustram esta dupla transformação: a Ferdinand Bilstein Portugal e a HORSE Aveiro. Ambas as empresas reformularam as suas operações, não apenas para acelerar fluxos e reduzir desperdícios, mas também para investir no reskilling das suas equipas.

 

SUSTENTABILIDADE – Progresso com Consciência
A prova dos 9: E se fôssemos mesmo sustentáveis?

A definição é conhecida: satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas. Mas até que ponto este princípio guia, de facto, os nossos comportamentos?

A sustentabilidade exige mais do que medidas pontuais ou compromissos em relatórios anuais. Obriga a repensar modelos de negócio, processos logísticos e hábitos de consumo. É uma prática diária que só se valida na “prova dos nove”: quando as escolhas feitas demonstram impacto real na redução do desperdício, na eficiência do uso de recursos e na preservação do planeta. O desafio que se coloca às cadeias de abastecimento é claro: transformar ambição em ação, de forma mensurável e consistente. Mas, seremos capazes de o fazer?

Entrevista | Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD Portugal

Desde janeiro de 2024 à frente do BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, Filipa Pantaleão tem como missão apoiar as mais de 200 empresas associadas na sua jornada rumo à sustentabilidade.

Na sua visão, a ambição já existe, mas a realidade ainda não acompanha o mesmo ritmo. “Há progressos reais, mas o país carece de investir mais no seu compromisso”, alerta. Para as empresas, a mudança de paradigma é decisiva: a sustentabilidade não deve ser vista como custo, mas como aliada da rentabilidade.

TECNOLOGIAS – Da Ferramenta à Inteligência
Do auxílio à autonomia: o cérebro digital da supply chain

Durante décadas, a tecnologia funcionou como uma extensão da ação humana: um scanner que lê, um empilhador que move, um software que aguarda instruções. Hoje, o paradigma está a mudar. A tecnologia começou a decidir. Inteligente, invisível e integrada, assume cada vez mais o papel de cérebro operativo das cadeias de abastecimento. Mas, à medida que a decisão se automatiza, a pergunta impõe-se: quem fica verdadeiramente no comando?

A resposta está menos na substituição das pessoas e mais na redefinição do seu papel: de executores de processos para estrategas, capazes de orientar e supervisionar a inteligência digital que já opera no terreno.

Entrevista | Carlos Figueiredo, CEO da CodeOne

Numa era em que as cadeias de abastecimento são cada vez mais rápidas, complexas e digitais, a proximidade ao mercado é tão crítica quanto a inovação tecnológica. É esta a visão de Carlos Figueiredo, CEO da CodeOne, que defende que a tecnologia só cria valor quando nasce da colaboração estreita com os clientes. “Inovar não é apenas desenvolver soluções tecnológicas, é perceber onde elas podem fazer a diferença real para quem opera a cadeia todos os dias.” Para a CodeOne, o futuro da supply chain digital não está apenas na inteligência das máquinas, mas no diálogo constante com quem as utiliza.

TRANSPORTES – Chegar Lá, no Ritmo Certo
Descarbonizar com impacto real

O transporte de mercadorias continua a ser um dos maiores emissores de gases com efeito de estufa. Mas é precisamente por isso que é também um dos setores em que a mudança mais pode contar. Ferrovia, rodovia e transporte fluvial estão a reinventar-se com soluções concretas que reduzem emissões, aumentam a eficiência e reposicionam Portugal — e a Península Ibérica — num novo mapa logístico mais sustentável. Fique a conhecer três projetos que mostram que a mudança é possível e, mais importante, já está em marcha.

 

CARREIRA – Gente com G: Gerações com Garra
Elogio aos invisíveis

Não aparecem nos organogramas nem nas fotos institucionais, mas sem eles nada acontece. São operadores de armazém, motoristas, preparadores de encomendas, técnicos de apoio… pessoas que mantêm a cadeia a funcionar mesmo quando ninguém repara. Este artigo é um tributo ao talento que raramente é visível, mas que diariamente assegura o ritmo da economia. Um elogio aos que, longe dos holofotes, fazem da supply chain um mecanismo fiável e resiliente.

Perfis em movimento: Três gerações, uma supply chain

A logística é uma história em constante (re)escrita. E, como qualquer narrativa viva, precisa de protagonistas com visões distintas, experiências complementares e uma ambição comum: transformar a cadeia de abastecimento num sistema mais eficiente, inteligente e sustentável. Neste artigo, cruzam-se três perspetivas: Fausto Figueiredo, Maria Pereira e Gonçalo Vieira. Três gerações, três percursos e três visões sobre um setor que está hoje no olho do vulcão.

Ponto de Vista
Carta aberta ao futuro por José Luís Simões | Presidente do Grupo Luís Simões

Num setor em plena transformação, onde a inteligência artificial, a transição digital e a mudança geracional desafiam todos os modelos estabelecidos, José Luís Simões deixa-nos uma reflexão poderosa: o futuro da logística será construído com coragem, criatividade e, sobretudo, com Pessoas. Do equilíbrio entre gerações à captação de talento, da reinvenção dos processos à valorização humana, esta é uma visão que lança um desafio claro: preparar líderes capazes de enfrentar realidades ainda desconhecidas.

🔗 Ler a carta completa na edição 65 da Supply Chain Magazine

BOAS LEITURAS!