Há uma palavra que, nunca tendo sido amada por ninguém, caiu de vez em desuso. Foi substituída por um eufemismo: desafio. A mal amada é, obviamente, problema. O eufemismo será filho da linguagem motivacional, dos influencers da moda, autores e gurus de autoajuda e outros que tal. Seja qual for a razão, implantou-se.

 

Pois, estou aqui para, sem rodriguinhos, apontar e refletir sobre três problemas que o setor da logística enfrenta e elencar mais cinco armadilhas que afetam o custo da operação.

É do senso comum que o setor logístico enfrenta um período de transformação profunda, impulsionado por pressões demográficas, ambientais e tecnológicas. Neste contexto, identificam-se três desafios como os mais prementes no futuro próximo.

Em primeiro lugar, a escassez de mão-de-obra qualificada, agravada pelas alterações demográficas e um mercado globalizado. Existe uma falta crescente de trabalhadores especializados, desde operadores de armazém a motoristas. Uma carência com consequências diretas, como custos com pessoal mais elevados, estrangulamentos operacionais e pressão para automatizar processos. Como resposta, cresce o investimento em robótica, automação, veículos autónomos e formação e valorização dos colaboradores.

O segundo grande problema (ou será desafio?) é a sustentabilidade e a pressão regulatória. Novos requisitos legais para a redução de emissões de CO2, como o EU Green Deal, Supply Chain Act, exigem mudanças estruturais. A consequência direta é a conversão rápida e onerosa para uma logística verde, nomeadamente, através da transição para frotas elétricas, combustíveis alternativos e embalagens sustentáveis. A tendência é uma maior transparência e monitorização contínua da pegada de carbono ao longo de toda a cadeia de abastecimento.

Finalmente, a transformação digital e a resiliência da cadeia de abastecimento surgem como resposta a um problema exposto por disrupções globais recentes: crises e conflitos geopolíticos revelaram a vulnerabilidade de muitas redes logísticas. A consequência, é uma pressão elevadíssima para digitalizar operações, implementar sistemas de rastreio em tempo real e criar redes mais flexíveis e diversificadas. Uma transformação que envolve Inteligência Artificial (AI), Internet das Coisas (IoT) e blockchain para otimizar e, acima de tudo, para tornar a cadeia de abastecimento mais segura.

Estes macrodesafios, criam um problema num componente crucial da cadeia logística: a armazenagem. A escassez de mão-de-obra reflete-se na dificuldade em recrutar e reter trabalhadores qualificados, com taxas de rotatividade elevadas. A solução envolve automação de tarefas repetitivas com robótica, oferta de salários competitivos e investimento em formação e programas de envolvimento dos colaboradores.

A má utilização do espaço é outro problema comum, com layouts ineficientes e subaproveitamento do espaço vertical, a que se junta a precisão das encomendas e a velocidade de fulfillment, desafiadas por erros na preparação e pela pressão para cumprir prazos de entrega cada vez mais curtos. 

A integração tecnológica é, por si só, um obstáculo, quando coexistem sistemas obsoletos a dificultarem a adoção de novas tecnologias. A adoção de plataformas em cloud com APIs abertas e a formação adequada da equipa são passos cruciais.

Depois, o controlo de custos. Por si só, é uma batalha constante, face à subida dos preços da mão de obra, energia e transportes. A resposta está no uso de análise de dados para identificar ineficiências, na negociação de melhores preços com transportadores e na implementação de tecnologias de poupança de energia.

Por fim, as flutuações sazonais da procura dificultam o dimensionamento das operações em picos de atividade. Ferramentas de previsão de procura, contratação de staff temporário e soluções de armazenamento flexíveis são a chave para responder a esta volatilidade.

A juntar aos desafios operacionais, existem armadilhas que geram despesas inesperadas:

  1. Excesso de stock e imobilização de capital: significa capital parado e custos de armazenagem elevados, com o risco acrescido de produtos se tornarem obsoletos ou perecíveis. A solução está em estratégias de procurement just-in-time e na otimizada do inventário.
  2. Utilização ineficiente do espaço: áreas de armazenamento desnecessariamente grandes aumentam os custos de aluguer e operação. A solução passa por sistemas inteligentes de armazenamento, armazéns de grande altura ou armazenamento compacto.
  3. Custos de RH ocultos: a alta rotatividade de pessoal gera custos de formação e ineficiência. Horas extras ou má organização do trabalho também contribuem para custos desnecessários. A automação, processos claros e formação são a resposta.
  4. Más decisões tecnológicas: sistemas de gestão de armazém desatualizados podem travar os processos, enquanto investimentos em automação cara e imatura podem não gerar valor acrescentado. A análise custo-benefício e a introdução gradual de inovação são críticos.
  5. Custos elevados de energia e custos operacionais: armazéns com isolamento e iluminação ineficientes geram custos elevados. A solução está na instalação de iluminação LED, sistemas de gestão de energia e controlo otimizado da temperatura.

Sara Monte e FreitasPartner, Monte e Freitas | ERA Group