As tensões comerciais, a ascensão da Índia e as mudanças no perfil exportador da Europa estão a redesenhar as cadeias de abastecimento globais, com impacto direto no setor do freight forwarding.
O sistema de comércio mundial encontra-se altamente desequilibrado e em transformação estrutural, alerta John Manners-Bell, analista da Transport Intelligence (Ti), no seu mais recente comentário publicado na plataforma da consultora. A análise faz parte do Global Freight Forwarding 2025 Report, que avalia como as alterações nas políticas comerciais e nas economias regionais estão a afetar os fluxos de carga marítima e aérea.
Segundo a Ti, a globalização enfrenta uma nova fase, marcada por volatilidade e realinhamento:
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China continua a exportar deflação através de políticas económicas internas que sustentam as exportações, mas colocam em causa a sustentabilidade do sistema comercial global.
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Japão e Coreia do Sul sofrem com fraca procura interna e pressões externas devido à disputa comercial entre EUA e China, afetando a competitividade das suas indústrias.
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Índia afirma-se como novo polo de produção e comércio internacional, beneficiando de investimento estrangeiro e de melhorias significativas nas infraestruturas logísticas, nomeadamente portos e estradas.
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EUA permanecem como motor do consumo global, mas dificilmente voltarão a ser um centro de produção em larga escala, exceto em setores específicos como a indústria automóvel.
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Europa prepara-se para diversificar exportações, apostando em bens de elevado valor acrescentado (farmacêuticos, aeroespaciais e componentes de engenharia) e serviços digitais, com menos dependência da Alemanha.
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Médio Oriente investe na criação de hubs logísticos, com os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita a posicionarem-se como plataformas estratégicas entre a Europa, o Índico e o Sudeste Asiático.
Um dado relevante adicional da Ti mostra que o European Road Freight Cost Index caiu em junho para os 196,2 pontos, prolongando para 12 meses consecutivos a tendência de descida. Apesar disso, os custos continuam muito acima do nível base de 2019 (100 pontos).
“As mudanças no comércio global não são apenas conjunturais; são estruturais e terão efeitos prolongados na forma como as empresas de freight forwarding operam e planeiam os seus investimentos”, sublinha John Manners-Bell.