A fábrica da Volkswagen Autoeuropa, em Palmela, vai produzir o novo elétrico de entrada da marca, o ID. EVERY1. A decisão, anunciada ontem, representa não só um passo estratégico na eletrificação da mobilidade europeia, como também um impulso decisivo para a cadeia logística e industrial, com impacto direto nos fornecedores e nas exportações.
O novo modelo 100% elétrico low-cost, apresentado pela Volkswagen, vai colocar Portugal no centro da estratégia de mobilidade elétrica acessível. A produção arranca em 2027, com chegada ao mercado em 2028, e insere-se num pacote de investimentos de 600 milhões de euros para modernização da unidade de Palmela, incluindo a nova Prensa XL e uma oficina de pinturas de última geração.
Mais de 92% da produção atual da Autoeuropa é destinada ao mercado europeu, um padrão que deverá intensificar-se com o ID. EVERY1. A aposta no nearshoring e na produção dentro da União Europeia reduz a exposição a riscos tarifários e encurta os lead times, tornando a supply chain mais resiliente.
Com a produção do novo modelo elétrico, espera-se um reforço do papel de Portugal nas exportações automóveis, que já representam 99% da produção da Autoeuropa.
A produção do ID. EVERY1 exclusivamente para o mercado europeu também protege a Autoeuropa do impacto desta guerra comercial alfandegária levantada pelos norte-americanos à Europa. Ainda assim, a indústria de componentes automóveis europeia continua apreensiva quanto à possibilidade de taxas adicionais. Organizações como a CLEPA defendem a implementação de um teto tarifário único de 15% para setores-chave — incluindo automóveis e semicondutores —, de forma a assegurar previsibilidade e estabilidade no planeamento industrial.
A aposta no ID. EVERY1 simboliza mais do que a chegada de um novo modelo: é um reposicionamento da Volkswagen Autoeuropa como polo estratégico da eletrificação na Europa. O impacto será sentido em toda a cadeia de valor, desde o transporte e logística internacional, até ao reforço de clusters industriais nacionais.
Para Portugal, esta é uma oportunidade histórica de se afirmar no mapa da mobilidade elétrica europeia, desde que consiga alinhar a indústria de componentes e aproveitar o efeito de arrastamento da decisão da Volkswagen.
A ocasião foi também o momento para confirmar que o novo T-Roc será igualmente produzido na Autoeuropa, trazendo versões híbridas paralelamente às térmicas, num reforço de portfólio da marca que representa uma aposta clara na diversificação e apoio à transição energética.
De realçar que em 2024, a fábrica de Palmela produziu 236 100 veículos, o segundo melhor ano de sempre, mesmo com várias paragens para modernização, um valor apenas superado pelos 254 600 carros de 2019. A produção diária média manteve-se nos 955 veículos por dia, meta também atingida como objetivo de 2025.
A Autoeuropa continua a desempenhar um papel central no setor: em 2024 representou 1,6 % do PIB nacional e cerca de 4,5 % das exportações portuguesas.
FOTO: Volkswagen Autoeuropa