O estudo “2024 EMEA Manufacturing Survey Report with Portugal Insights“, da Deloitte, revela como os líderes industriais estão a alinhar prioridades para responder aos desafios de um setor cada vez mais complexo e exigente. Crescimento sustentado na eficiência, investimento em digitalização e escassez de talento são temas centrais, com Portugal a destacar-se pela sua aposta proativa em tecnologia e recursos humanos.

Num cenário empresarial cada vez mais dinâmico, incerto e tecnologicamente avançado, os líderes industriais assumem hoje um papel mais crítico do que nunca. Além de garantirem margens e gerirem disrupções nas cadeias de abastecimento, enfrentam a exigente missão de liderar a transformação digital em simultâneo com a resposta à transição energética, à evolução regulatória e à instabilidade geopolítica.

Foi neste contexto que a Deloitte desenvolveu o 2024 EMEA Manufacturing Survey, reunindo as perspetivas de 32 COO (Chief Operations Officers) de 12 países, incluindo Portugal. Este estudo oferece uma visão abrangente sobre as prioridades estratégicas da indústria transformadora, os principais desafios operacionais e as dificuldades em superá-los, num momento onde a resiliência e a ambição são mais necessárias do que nunca.

Crescer… cortando custos

A nível EMEA, 78% das empresas inquiridas referem a redução de custos como prioridade estratégica, sendo que em Portugal essa percentagem é de apenas 33%. A diferença poderá traduzir maior maturidade, confiança em processos internos ou até um foco mais vincado na inovação digital.

Ainda assim, crescimento e eficiência continuam a ser os vetores dominantes nas decisões de investimento, com muitos líderes a reconhecerem que as ineficiências operacionais continuam a ser um dos maiores entraves ao progresso. Assim, a transformação digital surge como o principal antídoto, visando acelerar processos, ganhar agilidade nas cadeias de abastecimento e sustentar o crescimento.

Em Portugal, o foco na digitalização como ferramenta de eficiência é particularmente evidente. 78% das empresas nacionais destacam o uso crescente de tecnologias digitais como prioridade, um valor acima da média da região EMEA.

O estudo aponta para a utilização consistente de sistemas MES, ferramentas de análise de dados e IoT, ao passo que, nos próximos dois a três anos, se espera que tecnologias como Inteligência Artificial e manutenção preditiva tenham o maior impacto na indústria. Contudo, persistem obstáculos estruturais à adoção plena do digital: escassez de talento qualificado, dados fragmentados e infraestruturas tecnológicas envelhecidas.

 

Talento: o maior risco

A escassez de talento surge como o principal risco identificado pelas empresas. A dificuldade em recrutar operadores, engenheiros e gestores reflete uma pressão crescente sobre os recursos humanos qualificados, agravada por dinâmicas de envelhecimento e pela crescente complexidade tecnológica do setor.

Portugal, no entanto, apresenta uma atitude mais proativa, com maior investimento em contratação permanente e formação. Como destaca Joaquim Oliveira, Partner da Deloitte Portugal, “O forte investimento na otimização de processos e na contratação de capital humano com as competências necessárias, aliado à aposta em tecnologia, evidencia a proatividade e visão estratégica dos líderes em Portugal.”

Embora 53% das empresas portuguesas referiram a sustentabilidade como prioridade estratégica, o estudo revela dificuldades na sua concretização prática. Entre os principais obstáculos estão a falta de conhecimento, escassez de orçamento e uma perceção limitada do valor estratégico da sustentabilidade.

A monitorização da pegada carbónica, por exemplo, é feita regularmente por apenas 40% das empresas — e em muitos casos, os dados recolhidos servem apenas para cumprir requisitos legais, sem influenciar decisões de gestão ou inovação. O potencial transformador da sustentabilidade continua, assim, por realizar.

 

Cadeias de abastecimento: entre o clássico e o adaptativo

Para enfrentar disrupções nas cadeias de abastecimento, as empresas recorrem ainda a estratégias convencionais, como o aumento de inventários ou a diversificação de fornecedores. A baixa capacidade de previsão e análise de risco levanta dúvidas sobre a resiliência real das operações.

Apesar disso, em Portugal há sinais de uma maior predisposição para investir em modelos operacionais mais ágeis, que combinem tecnologia e inteligência de dados com redes de fornecimento mais flexíveis e adaptativas.

A leitura do estudo da Deloitte permite traçar uma radiografia clara da indústria transformadora em 2025: ambiciosa, mas cautelosa; tecnológica, mas ainda limitada pela escassez de talento e pela complexidade dos sistemas existentes.

Portugal destaca-se pelo seu foco em digitalização, talento e eficiência operacional, o que pode posicionar o país como um exemplo na região. Mas para sustentar esse caminho, será necessário alinhar práticas de sustentabilidade com objetivos de negócio, reforçar a maturidade digital e construir estratégias de talento de longo prazo.

Como conclui o relatório, “num setor em transformação, os líderes industriais enfrentam o desafio de equilibrar eficiência, inovação e resiliência.” O futuro será dos que souberem agir sobre estas três dimensões, de forma integrada, consistente e com visão.

 

📊 Em Números: Prioridades e Desafios da Indústria
Indicador EMEA Portugal
Redução de custos como prioridade estratégica 78% 33%
Investimento em digitalização 70% 78%
Implementação de práticas de sustentabilidade 22% 53%
Investimento em processos operacionais 81% 88%
Recrutamento de colaboradores permanentes 28% 38%
Investimento em tecnologia (dados/analytics) 25% 38%
Empresas que veem a escassez de talento como maior risco 40%
Monitorização mensal da pegada carbónica 40%

(Fonte: Deloitte, 2024)


📌 Nota: O estudo inquiriu 32 COOs do setor industrial em 12 países da região EMEA, incluindo Portugal. Os dados foram recolhidos em outubro de 2024.