Apesar do contexto global desafiante, o setor do calçado deverá crescer 7,6% a nível mundial em 2025, segundo o mais recente World Footwear Survey, promovido pela APICCAPS. Ainda que abaixo das previsões anteriores (8,4%), o crescimento continua em linha com a tendência positiva dos últimos anos, mesmo num cenário marcado por tensões comerciais, inflação e incerteza política.

Um dos fatores que contribui para a revisão em baixa do crescimento global é a nova política tarifária de Donald Trump, que, segundo a maioria dos especialistas da indústria, terá um impacto “predominantemente negativo” nos próximos dois anos. Curiosamente, os inquiridos da América do Norte revelam-se menos pessimistas do que os seus congéneres de outras regiões.

O estudo revela que as perspetivas mais animadoras estão em África, onde se antecipa um aumento do consumo de calçado de 14,9%, e na Ásia, com uma previsão de crescimento de 7,5%. Em contrapartida, os mercados da América do Sul (-0,5%) e da Oceânia (-3,3%) deverão registar recuos no consumo. Já a Europa (+2,0%) e a América do Norte (+3,9%) apresentam projeções modestas.

Para além do consumo, também os preços do calçado deverão aumentar, com 37% dos empresários a apontarem para subidas entre 1,5% e 5%, 21% a preverem aumentos entre 5% e 20%, e 17% a anteciparem crescimentos superiores a 20%.

Confiança moderada e desafios persistentes

Apesar das incertezas, o sentimento geral no setor é de otimismo: 58% dos profissionais inquiridos esperam um crescimento “forte” ou “muito forte” das vendas nos próximos seis meses, e 42% admitem reforçar os seus quadros de pessoal.

No entanto, persistem dificuldades. O custo das matérias-primas continua a ser o principal obstáculo identificado pelas empresas, seguido da procura insuficiente e da concorrência no mercado interno. As taxas e tarifas, embora com impacto crescente, surgem apenas em quarto lugar na lista de preocupações.

O setor de calçado português acompanha a tendência global, com um crescimento superior a 5% nos mercados externos nos primeiros quatro meses do ano. “Os dados do inquérito, sendo globalmente positivos, devem ser analisados com ponderação”, alertou fonte da APICCAPS, sublinhando que “os mercados estratégicos do setor, como os EUA e a Europa, perspetivam crescimentos relativamente modestos”.

Ainda assim, há sinais de oportunidade no Oriente. “O crescimento de 7,5% previsto na Ásia serve de alento, numa altura em que o setor está a investir em países como a Coreia do Sul ou o Japão”, conclui a fonte da associação.