Quando falamos de transformação digital no setor dos transportes, é fácil pensar em veículos autónomos ou na eletrificação. Mas há uma parte essencial que sustenta muitas dessas evoluções: a telemática. Aplicada à gestão de frotas, a telemática é o que permite aos engenheiros recolher, transmitir e analisar dados em tempo real sobre cada veículo – e transformar essa informação em decisões mais rápidas, operações mais eficientes, e uma mobilidade mais segura e sustentável.
Na prática, tudo começa com sinais que nos chegam a partir do GPRS e de sensores instalados nos veículos. Cada evento que acontece – uma travagem brusca, uma paragem numa estação, o fecho de uma porta – é transformado em dados. Os dados que conseguimos colecionar incluem localização, velocidade, distância percorrida, consumo de combustível ou bateria, tempo de paragem, estado do motor, diagnóstico de falhas e até o comportamento do condutor. No caso dos autocarros, por exemplo, conseguimos saber se efetivamente pararam nas paragens previstas, quanto tempo uma porta ficou aberta, ou se um componente está a funcionar fora do padrão normal. Tudo isto é processado para que o gestor da frota tenha uma visão clara e prática da operação, e consiga otimizar as operações de acordo com os dados disponíveis.
Uma das maiores vantagens da telemática está na redução de custos operacionais. Com acesso a dados em tempo real, torna-se possível planear rotas mais eficientes – poupando tempo e combustível – e identificar hábitos que aumentam os custos, como desvios de rota ou deixar o motor ligado durante longos períodos. Além disso, os dados permitem perceber se há comportamentos por parte dos condutores que impactam o desempenho ou o desgaste do veículo. Muitas vezes, corrigir esses hábitos com formação específica tem um efeito direto nos custos de manutenção e no tempo de vida útil da frota. A manutenção preditiva é outra mais-valia clara. Com a telemática, conseguimos monitorizar o estado dos componentes críticos do veículo, como motor, travões, pneus ou bateria. Se surgir uma vibração fora do normal ou um aquecimento inesperado, conseguimos detetar a anomalia antes de acontecer a avaria. Na prática, é mais eficiente (e mais barato) agir de forma preventiva do que ter um veículo parado na oficina, ou pior, na estrada.
No contexto das frotas elétricas, a telemática torna-se ainda mais importante. Através dos dados, é possível monitorizar a autonomia dos veículos, identificar os pontos de recarga mais adequados ao longo das rotas, otimizar os tempos de carregamento e avaliar se os percursos são compatíveis com a capacidade da bateria. Mais do que isso, a análise contínua dos dados permite perceber se a eletrificação da frota está de facto a trazer os benefícios esperados em termos de eficiência e sustentabilidade ou se há pontos a melhorar.
Gerir veículos pesados como camiões e autocarros é completamente diferente de gerir carros ligeiros. São veículos com custos de operação elevados, que percorrem longas distâncias e têm uma missão específica: transportar mercadorias ou pessoas em segurança e com pontualidade. A telemática permite monitorizar tudo, desde o estado do veículo até ao comportamento do condutor. E há uma questão importante: o cumprimento das regras legais, como os tempos de condução e descanso. Conseguimos garantir que os motoristas não estão a ultrapassar os limites legais, o que é fundamental para a segurança rodoviária e dos próprios.
A partir da telemática é possível conhecer verdadeiramente o veículo, a operação e o contexto – e, com base nisto, tomar decisões informadas e antecipadas. Para quem gere frotas é uma ferramenta essencial para assegurar uma mobilidade mais eficiente, mais segura, mais sustentável e mais preparada para o futuro.
Anthony Oliveira | Engineering Lead | tb.lx