A Dryad Global, fornecedora britânica de inteligência em risco marítimo, lançou esta semana um alerta à comunidade internacional de shipping: o cessar-fogo proposto entre os Estados Unidos e o movimento Houthi do Iémen é um avanço diplomático, mas não representa uma redução significativa do risco para as operações comerciais no Mar Vermelho.
A trégua, mediada por Omã, levou a administração norte-americana a suspender, a partir de 6 de maio, a campanha de bombardeamentos iniciada em março. O entendimento prevê a cessação mútua de hostilidades no Mar Vermelho e no estreito de Bab al-Mandab, uma rota crítica para o comércio global.
Contudo, a situação no terreno continua volátil. A Joint War Committee, entidade que determina zonas de risco de guerra para os seguros marítimos, mantém a classificação de elevado risco para aquelas águas. E a Dryad Global reforça que o ambiente de ameaça permanece inalterado.
“Este cessar-fogo é positivo do ponto de vista diplomático, mas estamos longe de poder afirmar que as condições de navegação são novamente seguras e estáveis”, afirmou um porta-voz da Dryad. “A liderança Houthi tem demonstrado imprevisibilidade, atacando navios ligados a países fora do conflito direto, como a Rússia ou a China.”
Além disso, o acordo limita-se a suspender os ataques entre os EUA e os Houthis, sem abranger a campanha contínua do grupo iemenita contra Israel. Os recentes bombardeamentos israelitas sobre Sana’a, o porto de Hodeidah e instalações industriais indicam que a escalada regional do conflito poderá continuar.
A possível retirada de elementos iranianos das zonas controladas pelos Houthis e os esforços diplomáticos da Arábia Saudita junto de Washington, antes da visita de Donald Trump ao reino em junho, acrescentam novas camadas de complexidade à equação geopolítica.
Para a Dryad Global, o risco continua particularmente elevado para embarcações não americanas que possam ser associadas a Israel ou aos seus aliados.
“Este anúncio não justifica, por si só, qualquer alteração material na nossa avaliação de risco”, conclui a empresa. “O Mar Vermelho permanece uma zona de ameaça ativa e altamente imprevisível. Os operadores devem continuar a adotar medidas de precaução e consultar especialistas antes de atravessar a região.”
A Dryad Global mantém a monitorização em tempo real da situação através da sua plataforma Secure Voyager Hub, fornecendo avaliações de risco e orientações operacionais a armadores, seguradoras e operadores logísticos em todo o mundo.
Conflito pressiona cadeias logísticas portuguesas
O Canal do Suez, por onde transita cerca de 12% do comércio marítimo mundial e 30% do tráfego global de contentores, continua a ser uma rota crítica. Desde o final de 2023, os ataques dos Houthis têm provocado uma redução significativa no tráfego marítimo, com uma queda de 28% registada em janeiro de 2024.
Para as empresas portuguesas, esta instabilidade traduz-se em desafios logísticos acrescidos. O desvio de navios pela rota do Cabo da Boa Esperança, alternativa mais longa, acrescenta entre 12 a 15 dias ao tempo de trânsito e aumenta os custos de transporte. Apesar destes obstáculos, as exportações portuguesas de bens cresceram 11,9% em fevereiro de 2025, atingindo 7,3 mil milhões de euros, impulsionadas por fornecimentos industriais e bens de capital. As importações também registaram um aumento de 3,3%, totalizando 9,26 mil milhões de euros, com destaque para bens de consumo e combustíveis.
O Porto de Sines, um dos principais hubs energéticos da Europa, desempenha um papel crucial na mitigação dos impactos desta crise, sendo responsável por importar 60% do gás natural consumido em Portugal e 40% do petróleo refinado.
No entanto, a dependência de Portugal de importações, especialmente da China, onde 24% dos produtos importados são quase exclusivamente provenientes, torna o país vulnerável a perturbações nas cadeias de abastecimento.
Enquanto a situação no Mar Vermelho permanece volátil, as empresas portuguesas são instadas a reforçar as suas estratégias de gestão de risco e a considerar alternativas logísticas para garantir a continuidade das suas operações.
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