O Reino Unido e os Estados Unidos anunciaram quinta-feira, 8 de maio, um acordo comercial que promete transformar o panorama do comércio bilateral, com impacto direto nas estratégias de procurement e nas cadeias de abastecimento transatlânticas. O presidente norte-americano Donald Trump descreveu o acordo como um “avanço histórico”, ao passo que o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, falou num “dia fantástico” para a cooperação entre os dois aliados.
Entre os pontos-chave do acordo está a redução significativa das tarifas impostas à exportação de veículos britânicos para os EUA, que passam de 27,5% para 10%, num contingente de 100 mil carros por ano – praticamente todo o volume exportado em 2024. Este corte representa poupanças anuais de centenas de milhões de euros para construtores como a Jaguar Land Rover, que emprega diretamente cerca de 250 mil pessoas no Reino Unido.
Em contrapartida, o Reino Unido aceitou concessões no setor agroalimentar, incluindo o aumento das quotas para carne bovina americana e etanol, além da remoção de barreiras não tarifárias e da criação de um sistema de fast-track aduaneiro para produtos dos EUA, especialmente nos setores agrícola, químico, energético e industrial. Para as empresas de procurement, isto significa processos de importação mais rápidos e previsíveis.
Segundo Howard Lutnick, Secretário do Comércio dos EUA, o acordo abre até 5 mil milhões de dólares em novas oportunidades de exportação para empresas norte-americanas, com destaque para maquinaria e produtos agrícolas. Ao mesmo tempo, os EUA mantêm uma tarifa base de 10% sobre os produtos britânicos, o que representa 6 mil milhões de dólares em receitas aduaneiras, mas com um acesso alargado em setores estratégicos como a aviação: componentes da Rolls-Royce poderão entrar no mercado americano sem tarifas, e está previsto um contrato de 10 mil milhões de dólares para aquisição de aviões Boeing por uma transportadora britânica.
O acordo é também visto como um teste de viabilidade para futuras parcerias comerciais dos EUA, podendo inspirar negociações com países como Japão, Índia ou Coreia do Sul. A integração do Reino Unido num “alinhamento de segurança económica” com os EUA, como referido por Trump, poderá ter implicações a longo prazo na gestão de risco nas cadeias globais, em especial em áreas tecnológicas como computação quântica, fusão nuclear e aeroespacial.
Apesar do otimismo, subsistem questões por resolver, como a taxa digital britânica que afeta gigantes tecnológicas norte-americanas e os subsídios à indústria farmacêutica, com ambos os lados a comprometerem-se a continuar as negociações.
Para os profissionais de procurement e supply chain, o acordo representa uma janela de oportunidade para reconfigurar fontes de abastecimento, reavaliar contratos internacionais e beneficiar de condições mais favoráveis na importação de matérias-primas e bens transformados, num contexto global marcado por incerteza tarifária.
Keir Starmer sublinhou o impacto direto nas comunidades industriais e na competitividade das exportações britânicas: “Este é o tipo de política comercial ativa que protege empregos e reposiciona o Reino Unido e os EUA como parceiros estratégicos em cadeias de valor globais”, afirmou Starmer, sublinhando o impacto direto nas comunidades industriais e na competitividade das exportações britânicas.
Embora os detalhes finais do acordo continuem em negociação, o entendimento preliminar, com a facilitação do desalfandegamento de produtos norte-americanos no Reino Unido e um corte substancial de tarifas, sobretudo em bens agrícolas, componentes industriais e químicos, para os profissionais de compras, este novo enquadramento poderá representar não só maior previsibilidade, mas também alívio nos custos totais de aquisição (Total Cost of Ownership), especialmente em categorias marcadas por flutuações tarifárias nos últimos anos.