Um dos temas abordados durante os dois dias da SCM Conference 2025 foi a gestão de risco. Os profissionais de supply chain já estão habituados a ter um plano B ou C, uma vez que este setor é altamente impactado pelas disrupções que acontecem no mundo. Desta forma, têm sempre de estar atualizados sobre o contexto geopolítico, pois várias decisões ou conflitos podem vir a causar um grande impacto nas suas cadeias de abastecimento.
Jorge Rodrigues, coordenador do Observatório de Risco Geopolítico para empresas da Porto Business School, marcou presença na SCM Conference para contextualizar a audiência sobre os desafios e oportunidades que se podem esperar no mundo durante a próxima década.
“Estamos num momento crítico”, começou por dizer quando falava sobre Portugal e a sua dependência de outros países. Tendo em conta o apagão que se fez sentir recentemente na Península Ibérica e noutros países da Europa, a dependência de outros países pode tornar-se um risco. Através de uma visão geral, Jorge Rodrigues apresentou o cenário geopolítico global este ano, destacando a competição entre a China e os EUA – não deixando de fora o tema das tarifas norte-americanas que têm vindo a impactar a Europa -, a competição entre o G7 e o BRICS, a ciber-globalização, ou o desiquilíbrio demográfico. Posteriormente, demonstrou o que caracteriza atualmente os três polos mundiais: EUA, China e Rússia, e as incertezas que daí advêm para o resto do mundo: superpotências disfuncionais, uma nova ordem mundial, e o futuro dos conflitos. De acordo com Jorge Rodrigues, estes cenários irão afetar as cadeias de abastecimento pela incerteza a imprevisibilidade que têm impacto em fatores como rotas, tempos, custos, mercados, fornecedores, entre outros.
Joaquim Oliveira, partner – Supply Chain & Network Operations da Deloitte, apresentou um Estudo de Supply Chain, no qual evidenciou o top de insights, os riscos que mais preocupam as empresas ou as áreas de maior investimento. Para os próximos 12 meses, as principais estratégias que as organizações antecipam passam pela redução de custos, foco na eficiência, investimento em crescimento e o aumento da utilização de tecnologia. De um modo geral, incluindo Portugal, as empresas estão efetivamente preocupadas com a gestão de risco, e de que forma podem mitigar o risco nas suas cadeias de abastecimento. Ainda assim, têm vindo a fazer face a desafios como escassez de talento, falta de ferramentas digitais e ciberataques.
O mote do evento “Inovar, Adaptar, Liderar”, juntou Daniel Krassenstein, Global Supply Chain director & president da CSCMP, Tiago Abreu, EU Senior Program manager da Amazon (Itália), e José Miranda, líder da Distribuição e Delivery da Leroy Merlin, num painel de debate para dar resposta a perguntas surpresa votadas pela audiência.
Entre perguntas e respostas, o tema da gestão de risco acabou por surgir quando abordado o apagão que se fez sentir no dia 28 de abril. Daniel Krassenstein garantiu que haverá uma nova grande disrupção, e que é necessário que as empresas estejam preparadas. Alertou para a importância de serem criados planos de contingência. José Miranda corroborou esta visão. “Cada vez mais estamos sujeitos a problemas, e a questão que se coloca, é o quão preparados estamos”, afirmava. Por sua vez, Tiago Abreu, apelou à diversificação das cadeias de abastecimento de forma a melhor prevenir para a possibilidade de eventos disruptivos.
Houve ainda tempo para falar sobre a polémica questão da substituição dos trabalhadores pela Inteligência Artificial (IA), no qual se evidenciou a unanimidade do painel: a IA não irá substituir as pessoas, mas funções. As pessoas serão sempre necessárias para tomar decisões racionais, enquanto a tecnologia surge para realizar tarefas repetitivas. Neste sentido, o que irá acontecer, é um “reskilling” e “upskilling”, gerando novas oportunidades e promovendo uma melhor qualidade de vida. “Não devemos ter medo do progresso”, referia Daniel Krassenstein.