Alguma vez teve a sensação, ao entrar numa plataforma logística, de estar a fazer uma viagem ao futuro? Pois, foi o que, recentemente, me aconteceu quando entrava numa das mais sofisticadas da Península Ibérica. Um gigantesco pavilhão automatizado, limpo e com um cheiro agradável, no qual os operadores, altamente qualificados, se contavam pelos dedos de uma mão. Foi como entrar no interior de uma vending machine e assistir a todo o processo, desde a entrada em armazém, até ao sorriso na cara do cliente final.

Uma visão do futuro para quem, como eu, se lembra de um contrastante ambiente fervilhante de paletes, empilhadores e caixotes, onde a arrumação e limpeza não deixavam ninguém impressionado e o aroma a gasóleo andava no ar. Os corredores, esses, povoados com expeditos trabalhadores de armazém com uma OP (ordem de picking) e uma caneta na mão, a percorrer quilómetros por dia a procurar caixas e/ou paletes.

Duas eras distintas, separadas por pouco mais de uma década. Hoje, exige-se a operadores de armazém conhecimentos sofisticados e várias qualificações, muito para além de gerirem e conhecerem sistemas de armazenagem (WMS). São gestores de uma camada tecnológica omnipresente de quem se espera habilidades de comunicação e organização, gestão eficiente de tempo, dados e informação, eficiência operacional, atenção aos detalhes, habilidade técnica, conhecimentos de segurança, capacidade de resolução de problemas e rápida adaptação à mudança, nomeadamente. Um contraste completo, se comparado com a requerida “ligeireza” e capacidade física de outros tempos.

Mudaram as pessoas e respetivas exigências e ou porque mudou também o conceito de plataforma/entreposto/armazém logístico. Do armazém, a quilómetros dos principais centros urbanos, passamos a uma maior proximidade. As grandes plataformas mantêm-se, mas o seu papel e as suas características vão evoluíram significativamente. Para além da automatização, robótica e inteligência artificial, o futuro, ou já o presente, passa por armazéns de cidade, como suporte à last mile, sustentáveis, temporários, multifuncionais, multi-concorrência ou de coopetição, entre muitas outras caraterísticas que têm ou vêm a possuir e não eram verosímeis há uma década.

O futuro dos armazéns logísticos é moldado por uma série de tendências e avanços tecnológicos que estão a transformar esta indústria, como a automação e robótica, a inteligência artificial, a verticalização e compactação do armazenamento, a sustentabilidade e energias renováveis, e uma vasta panóplia de integrações com a cadeia de abastecimento e o ritmo de consumo.

Um setor onde a viagem no tempo, seja passado ou futuro, está no dia-a-dia de muitos profissionais. Daqueles que se lembram do departamento de armazém e que hoje trabalham na logística ou supply chain. Preparemo-nos. Mais e melhor está para vir!

Sara Monte e Freitas | Partner | Expense Reduction Analysts