A MicKinsey & Company conduziu um estudo para avaliar os esforços em torno da comercialização na área da logística verde, que envolveu mais de 20 executivos em organizações de logística, e mais de 20 especialistas de setores adjacentes. Os resultados mostram que há oportunidades para as empresas de logística identificarem os clientes mais promissores para produtos verdes, para moldarem ativamente a procura desses clientes, e colaborarem para a criação de produtos verdes que ofereçam vantagens, gerando retornos positivos sobre investimentos em descarbonização, enquanto aceleram a redução das emissões na indústria.

O mercado da logística verde, ainda que incipiente, pode expandir-se rapidamente. Com base nos objetivos de redução do Escopo 3, e nas necessidades logísticas de cerca de 2.800 das maiores empresas do mundo em diversos setores, a Mckinsey & Company estima que a procura por logística verde em 2025 será de, aproximadamente, 50 mil milhões de dólares, o que corresponde a cerca de 2% do gasto total com logística. Em 2030, a representar cerca de 15% do gasto total com logística, espera-se que esta procura aumente para cerca de 350 mil milhões de dólares.

As empresas querem dar resposta às necessidades dos clientes, bem como cumprir metas regulatórias e alcançar o crescimento esperado. No entanto, descarbonizar este setor, dada a sua dependência do transporte que pode tornar mais difícil a sua redução, envolve despesas significativas. Diminuir as emissões de forma economicamente viável exigirá que as empresas de logística desenvolvam estratégias eficazes de comercialização. Contudo, praticamente a maioria dos inquiridos ainda não estão à espera de obter lucros com os serviços de logística verde. Em vez disso, o foco posiciona-se na recuperação de custos.

Encontrar margens

Muitos proprietários de carga estão à procura de estratégias para reduzir as suas emissões de escopo 3. As suas decisões de compra em relação à logística verde são, em grande parte, baseadas no nível de eficácia de um produto para ajudá-los a atingir as suas próprias metas no que diz respeito às emissões. Um produto de logística verde poderá ser mais bem-sucedido a atender a esta necessidade se as suas reduções de emissões forem auditáveis e significativas para afetar os números totais de emissões do cliente.

É claro que os clientes também procuram por produtos acessíveis. No entanto, reduzir as emissões geradas pelo transporte pode ser particularmente caro. Por exemplo, descarbonizar um envio aéreo utilizando combustível sustentável para aviação, que é cerca de três vezes mais caro do que o combustível normal, pode aumentar os custos de envio em aproximadamente 60% até 2030. Implementar serviços de logística verde pode ser desafiador por muitas razões. Requer gastos de capital significativos num ambiente incerto em relação a quais tecnologias prevalecerão, e quão rápido se podem tornar viáveis. Pode ainda envolver a colaboração com redes complexas de empresas subcontratadas, que têm os seus próprios incentivos, e que podem não necessariamente estar alinhados com a empresa.

As entrevistas efetuadas a especialistas e executivos da área da logística revelaram um consenso: os clientes querem produtos de logística verde, mas não estão dispostos a pagar por eles, ou pelo menos, não se disponibilizam a pagar o necessário para financiá-los. Por norma, estes clientes têm um forte poder de negociação. Devido aos altos custos e à dificuldade de implementação, aliados a esta falta de disposição, apenas cerca de um em cada quatro das principais empresas de logística oferecem produtos verdes. Ainda assim, nestas, o transporte verde representa menos de 5% do volume total do transporte.

Este poderia ser considerado um período de transição, no qual várias tecnologias permanecem caras, grande parte da infraestrutura não está preparada, e as fontes de energia renovável, muitas vezes, ainda não estão disponíveis em escala. No entanto, muito poucas das empresas de logística abordadas conseguem efetivamente obter lucro com soluções verdes. Todas as outras simplesmente desistiram de procurar margens de lucro em produtos verdes. Em vez disso, esperam apenas cobrir os custos. Embora as ambições reduzidas, estas empresas ainda oferecem produtos verdes para proteger a participação de mercado (já que os clientes principais podem sair se os produtos verdes não estiverem disponíveis), posicionar as suas marcas, auxiliar na procura por reduções das emissões do setor cumprindo metas impostas interna ou externamente, ou preparar-se para o aumento esperado da procura. 

À medida que as empresas de logística enfrentam o desafio de comercializar produtos verdes, começaram a inclinar-se para quatro modelos emergentes, ainda que nenhum tenha oferecido uma rentabilidade consistente. 

  • Custo do combustível mais zero

Setores como o do transporte aéreo e marítimo que dependem da utilização de combustíveis sustentáveis caros como único meio de redução substancial de carbono, geralmente tentam passar os custos dos combustíveis para os seus clientes. O cliente recebe um crédito de redução de carbono vinculado à quantidade e especificidade do combustível, que pode ajudar a atender às suas metas de redução do Escopo 3. Esta medida permite com que a empresa de logística recupere despesas. Um cliente pode escolher quantos litros de combustível sustentável, e quanto créditos de carbono, quer comprar e associar ao seu volume de transporte. 

  • Taxa fixa

No subsetor de courier, expresso e encomendas (CEP), no qual os serviços frequentemente requerem uma combinação de transportes de curta distância, armazenamento e classificação, e transporte de longa distância, é, geralmente, impraticável ligar medidas específicas de redução de carbono com envios individuais. Por exemplo, se um centro de triagem específico instala painéis solares, significa que os pacotes que por lá passam devem ser rotulados como verdes, e com preços ligeiramente mais altos? Em vez disso, uma taxa fixa é, muitas vezes, introduzida e aplicada à maioria ou a todas as encomendas. Este foco cria menos transparência sobre como a CEP gasta a sobretaxa. Pode também significar que os clientes não podem reivindicar créditos de carbono individuais, ainda que considerem que estão a ajudar a reduzir as emissões globais. 

  • Soluções dedicadas com princing full-cost

Alguns clientes, especialmente no setor do retalho, exigem uma conexão física direta entre a sua carga e os esforços de redução de emissões. Não querem utilizar um livro de reclamações que lhes concedam créditos de carbono desvinculados das verdadeiras atividades envolvidas. Desejam que a sua carga seja transportada apenas em camiões elétricos e manuseada apenas em armazéns com emissões líquidas zero. Algumas transportadoras e empresas de outsorucing adquiriram veículos neutros em carbono ou construíram armazéns sustentáveis dedicados a atender esses clientes específicos. Nestes casos, uma abordagem de “livro aberto” permite transparência, assegurando que o cliente pague para recuperar totalmente os custos, incluindo gastos de capital. 

  • Sem taxa

Alguns produtos de logística verde são oferecidos sem custos adicionais. Por norma, estas situações envolvem medidas de redução de emissões que resultam em tempos de entrega mais lentos, como agrupar várias encomendas ou mudar o modelo, por exemplo, de rodoviário para ferroviário ou de aéreo para marítimo. Mas as indicações mais recentes das empresas de logística sugerem que os clientes expressam uma vontade limitada em aceitar tempos de espera mais longos em troca de emissões reduzidas. 

Poderá ler o artigo completo na edição #51 da SCMedia News.