No dia 11 de janeiro, quase oito anos desde o início das operações da Medway em Portugal, a empresa ferroviária apresentou as primeiras locomotivas Stadler Euro6000, resultado de um investimento superior a 90 milhões de euros, realizado no final de 2021 para a aquisição de 16 novas locomotivas e 113 vagões.

“Este investimento não consiste numa simples renovação ou atualização da nossa frota. É muito mais do que isso. Estamos a falar de locomotivas elétricas, interoperáveis, da última geração para um serviço ibérico”, afirma o presidente da Medway, Carlos Vasconcelos, destacando que estes veículos são mais amigos do ambiente, e que irão ajudar a empresa a atingir os seus objetivos de sustentabilidade.

O presidente destacou ainda o papel importante dos colaboradores para o crescimento e desenvolvimento da Medway, sendo “a força, o coração e a alma desta empresa”, e agradeceu em especial ao diretor geral Bruno Silva, “que foi e é a alma de todo este percurso e de todos os nossos projetos que, de forma incansável e com enorme profissionalismo, vem coordenando”.

Juntamente com os investimentos que estão a desenvolver, como o Terminal do Lousado (>80M euros); a unidade de fabrico de vagões (Smart Wagons) e o complexo de manutenção e reparação de locomotivas e vagões (>70M euros); a seleção recente para uma parceria com a Renfe Mercancías; ou o início das operações em França em 2025; a empresa pretende tornar-se “o maior operador ferroviário de transporte de mercadorias da Península Ibérica, e um dos principais players europeus”, como destacou Carlos Vasconcelos, frisando que isso ocorrerá “com ou sem Renfe”.

Desigualdade no apoio à descarbonização
Não obstante à celebração da chegada destas locomotivas, Carlos Vasconcelos frisou a necessidade de uma política de apoio ao setor, caso contrário “podemos chegar ao extremo de ter uma excelente rede ferroviária onde não circularão quaisquer comboios de mercadorias”.

Durante o seu discurso, o responsável frisou que existe uma desigualdade acentuada entre os apoios dados à rodovia e à ferrovia, desde logo:

  • A maior parte da rede rodoviária não ter qualquer portagem para carga, mas, em toda a rede ferroviária existir uma taxa de utilização imputada diretamente aos operadores;
  • Os operadores ferroviários suportarem a quase totalidade de custos de manutenção da infraestrutura, e os operadores rodoviários não;
  • A rodovia receber subsídios para a renovação da sua frota, de modo a que tenham camiões mais eficientes e sustentáveis, o que não existe para a ferrovia;
  • A rodovia ter recebido compensações pelo aumento dos custos dos combustíveis em 2022 e 2023, enquanto à ferrovia o mesmo foi prometido, mas não as chegaram a receber;
  • Redução de portagens em várias autoestradas para a rodovia, e aumento das taxas para a ferrovia de 21% e 23% em taxa de uso da rede ferroviária, para a tração elétrica e para a diesel, respetivamente.

Em comparação com outros países europeus, Carlos Vasconcelos destaca que em Espanha, a taxa de uso da rede ferroviária é de 23 cêntimos por quilómetro, enquanto em Portugal é de 1,87 euros. “É oito vezes mais caro transportar em Portugal do que em Espanha”, frisa o presidente, dando ainda o exemplo da Áustria, que como forma de promover a descarbonização, isentou a cobrança de taxa de uso às empresas de transporte ferroviário de mercadorias.

 

“Para cumprirmos estas metas nacionais e europeias, necessitamos de apresentar uma alternativa ferroviária eficiente a milhares e milhares de empresas que ainda transportam as suas mercadorias por estrada. Temos de criar as condições competitivas para que possam passar para a ferrovia”.

– Carlos Vasconcelos, presidente da Medway

 

“Enquanto a rodovia estiver em concorrência desleal, como é que conseguiremos atrair o mercado para a ferrovia, substituindo os camiões pelos comboios, a investir na descarbonização da sua atividade logística, a reduzir, no fundo, a sua pegada de emissões de CO2?”, concluiu Carlos Vasconcelos.

Leia brevemente a entrevista a Bruno Silva, diretor geral da Medway, sobre os investimentos e o estado do setor na revista SCMedia News.