No passado dia 23 de novembro, no Hospital da Luz, ocorreu o 7º. Seminário de Logística no Setor da Saúde, organizado pela Associação Portuguesa de Logística (APLOG). Ao longo do dia, os oradores abordaram o tema “Boas Práticas e Perspetivas de Futuro”, debatendo o estado do setor e as necessidades das empresas.
A abertura foi dada por Raúl Magalhães, presidente da direção da APLOG, que introduziu o tema a debate, tocando em várias áreas de interesse, desde os processos, necessidades, desafios ou a tecnologia. Questões como a capacidade de resposta, custos, e as alterações e os novos modelos de serviços de saúde, foram também alguns dos temas abordados.
Seguidamente, Pedro Líbano Monteiro, administrador executivo do Hospital da Luz Lisboa, fez também uma introdução enquanto anfitrião, mas também como agente do setor. Um dos destaques que deixa é para a partilha que existe dentro do setor da saúde: “na área da saúde, quando alguém descobre alguma coisa, partilha”, algo que não acontece noutras áreas por questões de concorrência.
Durante a primeira mesa-redonda, com o tema “Modelos de Prestação de Cuidados e Impacto na Logística – Unidades Locais de Saúde”, Luís Santos, senior manager da KPGM, moderou o debate entre Sónia Duarte, gestora de produção do Hospital de Braga, Beatriz Duarte, vogal do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de Santo António, Rita Moreira, diretora executiva do SNS, e Leandro Luís, administrador Hospitalar da Unidade de Gestão de Transportes do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central.
Durante este momento, ressaltaram temas como a modernização dos processos, a importância da distribuição no acesso aos cuidados de saúde, controlos reais, transporte ou tecnologia como suporte aos decisores.
Indo ao encontro da ótica de Pedro Líbano Monteiro, Rita Moreira defendeu que “não são necessárias mais camas nem mais hospitais em Portugal, temos é de trabalhar juntos”. Nesse sentido, Beatriz Duarte defendeu ainda a integração de uma rede, com acesso aos dados do utente, entre as unidades de saúde, exemplificando que isto poderia evitar uma nova recolha de amostras com pouco tempo de diferença entre elas, entre outros benefícios para o setor.
Numa ótica mais logística e de otimização dos processos, Leandro Luís conta que foi necessário ajustar os processos do hospital ao nível do transporte e do procurement, e aponta que a contratação de transportes poderá ser um benefício, visto terem vários transportes diários para o mesmo local. Ao nível da contratação pública, destaca a complexidade destes processos, uma ideia também defendida por Sónia Duarte, destacando que estes tornam-se um desafio, face à realidade em que se encontrava anteriormente no setor privado. Outra área que a responsável destacou foi a necessidade de espaço de armazenagem, e que eventualmente iriam necessitar de um novo espaço.
No momento seguinte, “Os desafios ESG (Environment, Social and Governance) no Procurement e Logística”, Cátia Ferreira, Business Performance Manager da AstraZeneca, Ana Lúcia Amaral, Diretora de Compras e Logística do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, Vanessa Paulino, diretora de aprovisionamento do Centro Hospitalar Barreiro Montijo, e Ana Teresa Cruz, Diretora da Área de Gestão de Compras, Logística e Distribuição do Centro Hospitalar Lisboa Central, debateram sobre as questões de sustentabilidade nas operações de compras e logística, sob a moderação de Sérgio Quinteiro, Deputy Director of Supply Chain & Operations SupportDeputy Director of Supply Chain & Operations Support da Luz Saúde.
Entre os temas debatidos, destacaram-se temas como a sustentabilidade, reaproveitamento de desperdícios, energia e distribuição.
Vanessa Paulino apontou algumas medidas adotadas que geraram ganhos, desde logo um plano de rentabilização energética, com a implementação de 300 painéis solares que já lhes reduziram as despesas energéticas em 65% ou a chegada de veículos elétricos para breve, mas ao nível do sourcing, defende os oradores do painel anterior, por não ter acesso à compra direta.
Ana Teresa Cruz considera algumas medidas, como a distribuição de medicamentos de proximidade, um projeto que surgiu durante a pandemia, que permite que doentes que se tenham de dirigir ao hospital regularmente para recolher as suas medicações oncológicas ou para a SIDA, as consigam recolher numa farmácia de proximidade à escolha do próprio. Esta medida tem custos para o hospital, mas permite que estes doentes, reduzam a sua própria pegada ambiental.
Ao nível do desperdício alimentar, Cátia Ferreira destaca terem uma pedida de reaproveitamento dos resíduos orgânicos da cantina, que são transformados em composto para a horta da empresa.
Ana Lúcia Amaral destaca a desmaterialização enquanto forma de diminuir a geração de resíduos, apesar de admitir que este setor gera muitos resíduos, mais propriamente ao nível de resíduos hospitalares e elétricos.
A iniciar a tarde, deu-se a exposição de quatro casos, com a Rangel Pharma, através de Tiago Seguro, Head of Pharma da Rangel Logistics Solutions, da Glintt, com Silvério Neves, manager da empresa, da Wide Scope, com Filipe Carvalho, CEO, Partner e co-founder, e da Bayer, com António Dias, Director of Regulatory Affairs da Bayer Portugal, tendo como tema “Transformação Digital na Saúde”. A sessão foi moderada por Rui Rufino, da direção da APLOG.
Tiago Seguro defende a transformação digital para a otimização de processos, e apresentou alguns casos recentes, que ocorreram durante a pandemia. Segundo aponta, isto tem permitido às empresas uma redução de inventários, de custos com inventário, aumento da rastreabilidade e a segurança dos produtos.
Ainda dentro do tema da tecnologia, Silvério Neves aponta alguns dos desafios das Unidades Locais de Saúde (ULS), e prioridades ao nível da desmaterialização de processos, centralização e uniformização da informação, e a otimização operacional.
Filipe Carvalho apresentou os serviços da Wide Scope e a forma como ajudam os seus clientes ao nível da gestão de rotas e de transporte, através do planeamento da empresa, contando com clientes não só no setor de Healthcare, mas também de outras áreas da logística. O responsável conta que por se tratar de um setor com um nível de atenção redobrado face às incertezas, têm também em conta algum tipo de abastecimento dos veículos para colmatar alguma eventualidade.
Por fim, no caso da Bayer, António Dias falou sobre a transição do folheto informativo eletrónico, através de códigos QR para uma consulta online. Até ao momento, 40 medicamentos já aderiram a este teste-piloto, e caso a legislação seja aprovada neste formato, caberá aos estados-membro decidir se o folheto será disponibilizado em papel ou eletrónico, ou ambos, sendo que, se o utente terá sempre direito a uma cópia gratuita em papel, caso a solicite.
Na última mesa-redonda, Alcibíades Paulo Guedes, President of the Board & CEO do INEGI, moderou a conversa entre Paulo Teixeira, Country Manager da Pfizer Portugal, Rui Costa, General Manager Portugal da GE Healthcare, Miguel Santos, Country Manager e CEO da Affidea Portugal, e Pedro Moura, Managing Director da Merck, sob o tema “Desafios da Saúde e o seu Impacto na Logística”.
Miguel Santos começa por defender que “a saúde tem preço”, ao contrário do que se pensa, e acredita que existe uma tendência de, sempre que possível, desimpedir os hospitais, procurar cuidados noutras unidades de saúde, ou em homecare.
Enquanto Pedro Moura exemplificava com casos internacionais em que a tecnologia era utilizada em prol da saúde e da distribuição de medicamentos, ou Rui Costa apontava a importância da Inteligência Artificial para ajudar no processo de tomada de decisão, Paulo Teixeira apontava que no país existe uma disponibilidade tardia de tecnologia existente noutros países.
Um dos tópicos apontados por Miguel Santos foi ao nível das regulamentações, que segundo defende, necessitam de ser revistas. Dá ainda o exemplo de ineficiências nos processos, como a obrigatoriedade de os laboratórios de análises clínicas fazerem o envio de amostras de postos de colheitas através de veículos próprios, para os laboratórios centrais. Diariamente, estima existirem cerca de 1.000 carrinhas de diversos laboratórios nas ruas, todas com o mesmo destino.
Paulo Teixeira defende que deveria existir um hipotético centro de distribuição nacional que faria toda a distribuição, desde hospitais a farmácias comunitárias, ou cuidados domiciliários. O responsável toca ainda num tema abordado por Ana Teresa Cruz, ao nível do acesso de utentes que residam longe dos hospitais a medicamentos crónicos, e que têm de se deslocar até aos mesmos para irem receber a sua medicação, com todos os impactos pessoais e económicos que isso implica. Assim, destaca que o setor da distribuição vai ter de se adaptar a essa realidade para dar resposta a estas necessidades.
A terminar, Alcibíades Guedes lança a questão para debate sobre a possibilidade de entrada de novos players no setor da saúde. Miguel Santos responde que “onde há valor, onde há margens, há sempre espaço para virem a aparecer novas empresas que querem capturar o valor que há, quer outras que tentam fazer disrupção”.
Pedro Moura defende que mais importante do que o risco de novos players são as oportunidades que eles acrescentam, mas mais ainda é compreender como é que os players existentes se estão a organizar.
Rui Costa nota que já se verificam muitas empresas a entrar no mercado da área oncológica, em especial, e que estão a evoluir o setor e a obrigar a alterar a tipologia de equipamentos disponibilizados ao mercado.
Por fim, Paulo Teixeira conclui que “o setor da saúde será sempre um setor muito dinâmico e muito apetecível”, e em que todos os anos surgem diversas start-ups dedicadas à investigação de áreas de nicho, o que tem resultado em grandes farmacêuticas acabarem por não investir tanto em investigação própria, mas sim em adquirir essas start-ups e acelerar esse processo.
Após as apresentações, Pedro Lima, CEO da GLSMed Trade e Group Director Supply Chain & Operations Support da Luz Saúde, agradeceu a presença da assistência e a relevância de o evento ter sido realizado nas instalações da Luz Saúde.
Por fim, Nuno Rangel, membro da direção da APLOG e CEO da Rangel Logistics Solutions, encerrou o dia, sintetizando os principais temas abordados e destacando a importância destes momentos de partilha dentro do setor.