Sustentabilidade, tema inevitável na sociedade atual, por muitos discutida e por poucos dominada. Existe um incontornável sentido de “missão”, necessidade e urgência por parte das organizações em implementar planos e medidas sustentáveis, mas simultaneamente acompanhados de camadas de desconhecimento, dúvidas e incertezas quanto ao que fazer, assim como quais os reais impactos dessas mesmas medidas.

Assumindo como ponto de partida que uma mudança comportamental é inevitável, pois como exemplo figurativo se imaginarmos uma espécie de recipiente (planeta) com água (recursos) e alguns pedaços de esponja (pessoas = consumidores de recursos), onde num espaço de 200 anos – entre 1900 e 2100 – o número de pedaços de esponja nesse mesmo recipiente se multiplicam por sete (crescimento estimado da população mundial) e continuam a absorver os recursos por mais 30% do tempo (longevidade da população), facilmente concluímos que o recipiente (planeta) ficará sem qualquer água (recursos). Como tal, há que mudar mentalidades e comportamentos. No entanto, a efetivação de uma política global de sustentabilidade, não é de todo fácil, imediata e/ou gratuita.

Existem diversas variáveis que irão condicionar a definição e implementação de políticas de sustentabilidade, sobretudo se tiverem em conta não apenas a componente ambiental, genericamente a mais – ou única – abordada, mas simultaneamente as outras duas componentes centrais da sustentabilidade, a componente social e económica.

Uma das barreiras iniciais passa pela tipologia do tecido empresarial português, na sua esmagadora maioria, constituído por micro e pequenas-médias empresas. Esta realidade, será diretamente condicionada pelos respetivos (baixos) níveis de conhecimento sobre estas temáticas, assim como a capacidade, recursos e meios (in)existentes para gerir todo o processo. Em paralelo, será que os recursos e skills atuais serão os necessários no futuro próximo? Provavelmente não, pelo que, os upskills e reskills farão forçosamente parte de programas a adotar pelas empresas.

A variável legislativa terá cada vez mais um peso relevante na tomada de decisão e modus operandi das organizações, assumindo rapidamente o modo obrigatório e coercivo de implementação das diversas medidas, sendo as mesmas genericamente “cegas” quanto às especificidades de cada empresa, com especial foco para os timings e recursos necessários para a sua implementação, gestão e controlo. É necessário adereçar às empresas um determinado período para que as mesmas possam “aprender”, dominar e implementar as diversas diretrizes legislativas.

A transição ambiental carece inevitavelmente de investimentos, o que levará a curto prazo, a um aumento dos custos por parte das organizações, como é o caso da transição energética, biocombustíveis, frota elétrica, materiais de embalagens recicláveis ou reutilizáveis… o que salvo rara exceção levará ao aumento global do custo dos produtos e/ou serviços comercializados. E será que o consumidor está disposto a suportar este custo adicional? Será que perceciona o valor acrescentado dos mesmos, levando à sua aquisição?

A (in)disponibilidade de matérias-primas, meios e/ou recursos é outra das limitações com que as empresas se veem confrontadas no dia a dia, sendo disso exemplo a fraca disponibilidade de frotas elétricas, pontos de abastecimento… pelo que, mesmo que existam os recursos financeiros e vontade em avançar neste sentido, os meios não se encontram disponíveis, para além de serem substancialmente mais caros do que as frotas convencionais (combustíveis fósseis).

No meio de toda esta complexidade, dificuldade e incerteza, há que assegurar que as decisões agora adotadas não sofram do efeito de miopia de curto/médio prazo, de forma a não colocarem em causa o futuro das organizações e do próprio planeta, até porque as diversas medidas implementadas (ou a implementar) para que sejam verdadeiramente sustentáveis têm de consagrar as três componentes: social, económica e ambiental.

Como conclusão diria que a vontade em mudar existe, com especial incidência nas grandes organizações e novas gerações, mas o caminho não será fácil, nem todas as organizações irão conseguir chegar ao final desta jornada, mas sendo um caminho irreversível, há que acreditar no mesmo e dotarmo-nos do conhecimento, pessoas e meios mais adequados, de forma a tornar a sustentabilidade verdadeiramente “sustentável”.

Flávio Guerreiro | Country Manager | LPR Portugal