O setor do delivery, em particular no que se refere ao segmento HORECA, está a provocar mudanças profundas na economia e nos hábitos sociais da população. E está a fazê-lo à escala mundial.

Cada vez mais pessoas compram refeições ou outros bens alimentares através de plataformas digitais, o que, além de afetar os seus hábitos de consumo, tem um impacto no ambiente em termos de desenvolvimento urbano (especialmente em grandes cidades com elevada densidade populacional) e políticas de sustentabilidade. É importante ter em conta que estamos num contexto em que os Objetivos de Desenvolvimento de Sustentável estão na mira das organizações, como um indicador-chave do seu compromisso e reputação.

A pandemia de Covid-19 e o subsequente confinamento foi o momento-chave em que o crescimento do número de utilizadores começou a acelerar exponencialmente. Conforme refletido no Relatório Global Digital 2023, que afirma que o setor de aplicativos de entrega de refeições cresceu 8,6% ao ano em todo o mundo em 2022.

Mas passada a fase de pandemia, os nossos indicadores revelam que esta é uma tendência que veio para ficar, prevendo-se que os utilizadores de plataformas de encomenda de refeições online aumentem 53,7% até 2027. E Portugal, um mercado que conhecemos bem e onde operamos há dois anos, não é exceção. Se no período analisado pelo relatório, o aumento foi de 33,6%, as previsões apontam para um aumento de quase 50% até 2027. Segundo um estudo da Kantar, que analisou o comportamento dos consumidores em dez países de várias geografias, foi nos mercados europeus que o negócio da entrega de refeições mais cresceu. Em Portugal, o crescimento foi de 16%, passando de 57% para 73%. Também muito relevante, 44% do crescimento verificado em Portugal foi nos clientes que encomendam refeições uma ou mais vezes por semana, os heavy buyers.

Estes números mostram claramente que os operadores de transporte de last mile – em particular os que trabalham para o canal HORECA – são uma peça-chave nesta transição para novos modelos de consumo e protagonistas na formação de novas cidades cujos desenvolvimentos urbanísticos devem prever um número cada vez maior de viagens de motoristas de entregas. A nossa responsabilidade é ir ao encontro dos nossos clientes, do consumidor final, mas também, e sobretudo, da sociedade, apostando numa eficiência operacional que nos permita oferecer um serviço de qualidade, contribuindo para descongestionar as cidades em benefício dos cidadãos e do ambiente.

Para isso, o nosso setor apostou na digitalização e na análise de dados para obter mais resultados com menos recursos (otimização das rotas e redução da quilometragem, agrupamento de encomendas, etc.) e nos veículos ecológicos e na mobilidade partilhada que reduzem a pegada de carbono e contribuem para tornar mais limpas as cidades onde operamos.

Os novos modelos de cidade estão mais centrados nas necessidades dos consumidores e das próprias empresas – sejam grandes ou pequenas – e puderam desenvolver-se graças à flexibilidade e à adaptação constante dos intervenientes no setor das entregas, muitas vezes definidos pelo seu core business 100% tecnológico.

As cidades do presente e do futuro já exigem responsabilidade a todos os players, e o setor do transporte de last mile tem de dar um passo em frente para liderar as fórmulas comerciais que permitirão a qualquer empresa manter a sua atividade, graças à reinvenção e ao compromisso com um ecossistema social e ecologicamente responsável.

Ricardo Amorim, diretor-geral da Stuart para Portugal e Espanha