Após várias semanas consecutivas de aumentos nos preços dos combustíveis, os portugueses receberam a notícia de uma diminuição de um cêntimo no preço do gasóleo e meio cêntimo na gasolina. Em declarações à RTP 1, Pedro Apolónio, presidente da ANTRAM – Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias, enfatizou que, apesar desta redução, os números em questão proporcionam apenas um breve alívio. De acordo com o Jornal de Notícias (JN), atualmente, encher o depósito acarreta um custo entre 10 e 14 euros a mais do que em maio.

Durante a entrevista à RTP 1, Pedro Apolónio descreveu a situação como “verdadeiramente complicada”, sublinhando que os custos associados ao combustível para o setor de transporte de mercadorias agora se assemelham aos de setembro do ano anterior. “Com uma economia bastante mais desacelerada do que aquilo que acontecia no ano transato e num clima de uma guerra mais intensa do que aquilo que hoje sucede, verificamos que o gasóleo tem uma tendência altista. Subiu mais de 20 cêntimos ao longo das últimas 8 semanas e agora teve uma breve redução de 1 cêntimo, mas que é absolutamente temporária”, assegurou.

O responsável manifestou ainda preocupação sobre como as empresas de transporte estão a lidar com a situação, uma vez que o combustível representa mais de 50% dos seus custos operacionais, e a desaceleração económica já afetou a procura por transporte desde junho. Questionado sobre a possibilidade de uma tendência contínua de aumento nos preços, o presidente da ANTRAM, afirmou que existe “uma tendência de descida neste momento por força da redução da economia, mas, terão, necessariamente, porque há uma regra básica nas empresas que tem que se respeitar os custos, que fazer subir os nossos transportes, de outra forma as empresas não poderão sobreviver. O que é altamente prejudicial em si mesmo para o país, porque nós já estamos a sofrer um problema de redução das exportações e vamos ter que, em cima das nossas exportações, aplicar preços de transporte mais elevados”.

De acordo com o entrevistado, a solução passa por uma redução nos preços dos combustíveis, tanto nos mercados internacionais quanto por intervenção governamental: “O Estado, desde o início deste ano, mas sobretudo desde maio até agora, entre a recuperação da taxa de carbono e o aumento do ISP propriamente dito, já aumentou o nosso litro de combustível de gasóleo, em cerca de 11 cêntimos (…). O nosso gasóleo hoje custa em média entre 10 e 12 cêntimos mais, face à Espanha, e, isso vem, precisamente, deste aumento recente de impostos realizados em Portugal ao longo dos últimos [meses], sobretudo nos últimos dois meses e meio, três meses”. O responsável da associação defende ainda que “se em 2022 [Portugal] decidiu reduzir os impostos porque as condições económicas assim exigiam, não percebemos que os fundamentais não existam hoje, tal qual existiam em 2022”, e considera que o Estado deveria voltar atrás nesta política de recuperação, para os níveis anteriores à guerra dos combustíveis.

Uma das críticas de Pedro Apolónio dirigiu-se à questão das margens orçamentais, referindo-se à comunicação feita pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de que estas existem para estes casos. “A margem orçamental, entendemos nós, deve ser usada no momento em que as empresas, no caso, e as pessoas, também precisam dela. Nós temos que usar a margem orçamental que temos para ajudar as pessoas a viver no imediato e as empresas a conseguirem sobreviver. Não é para depois andarmos a apanhar os cacos”, defende. “Esperemos que haja este consenso da parte do Governo. Nós, da nossa parte, vamos continuar a fazer os contactos no sentido de transmitir as dificuldades reais e muito fortes que as empresas estão a sentir neste momento”, conclui Pedro Apolónio.