Em entrevista ao jornal espanhol El Mercantil, a dinamarquesa AP Möller-Maersk, segundo maior armador do mundo, logo depois da MSC, explicou a estratégia por detrás dos novos investimentos feitos recentemente, em que deixou de ser apenas um operador marítimo e passou a envolver novas áreas de transporte e logística.

“A Maersk simplesmente não é mais a antiga empresa de transporte marítimo, tornou-se uma empresa de logística ponta a ponta na cadeia de abastecimento, e não estamos a priorizar o tamanho da frota de navios como sendo o dado mais importante”, explicou um porta-voz europeu à fonte.

A multinacional conta com uma frota de 658 navios porta-contentores, e com uma capacidade de 4,14 milhões de TEU, representando uma quota de 15,2% da capacidade mundial, segundo dados da Alphaliner. Há cinco anos, contava com 18,5%, uma perda que tentou compensar comprando um armador concorrente. Apesar de tudo, fechou o primeiro semestre com um resultado operacional de 3.933 milhões de dólares “num mercado em profunda desaceleração”, nota o El Mercantil.

Nos últimos três anos, a Maersk investiu 10 mil milhões de dólares para crescer com as aquisições das Senator International, LF Logistics, Pilot Freight Services, Visible SCM e Martin Bencher Group, entre outras. “A Maersk tornou-se um fornecedor logístico para toda a cadeia de abastecimento, desde a fábrica até ao consumidor final, incluindo todos os modos de transporte, armazenamento, serviços alfandegários, etc. Nossa abordagem, porque os clientes assim o exigem, é buscar soluções logísticas abrangentes e flexíveis. E o transporte marítimo é apenas uma parte entre muitas outras da logística ponta a ponta”, destacou a dinamarquesa.

Ao nível da capacidade logística, revelou à fonte que “investimos muito dinheiro em armazéns nos últimos anos e temos mais de 450 centros logísticos e sete milhões de metros quadrados em todos os continentes”, os quais são “essenciais para fornecer aos nossos clientes soluções de supply chain ágeis e resilientes”.

O El Mercantil aponta que também a Linerlytica analisou “o fracasso da sua estratégia de integração” que “permitiu aos seus rivais tomarem parte da sua participação” no negócio mundial de contentores, e que essa quebra de 3,3 pontos de quota mundial representou uma perda de 4 mil milhões de lucro nos últimos cinco anos.

Lars Jensen, CEO da Vespucci Maritime, um conceituado analista do setor, também fez uma análise à evolução e transformação do negócio da Maersk, e realça que “é necessário um período de tempo mais longo para avaliar corretamente o sucesso ou o fracasso da sua estratégia”, notando que embora seja visível a perda de quota de mercado no transporte marítimo, “há que referir que o próprio armador afirmou que a procura de quota de mercado não é a sua prioridade”, reforçando a importância da complementaridade logística na sua estratégia enquanto prestador de serviços.

“Se analisarmos a evolução da Maersk nas últimas duas décadas, observamos que a transportadora vem a perder quota de mercado na maior parte dos trimestres. Nessa conjuntura, às vezes, para ganhar participação e recuperar o pedaço do bolo que foi cedido, eles adquiriram um armador. E este momento não parece ser diferente, principalmente se levarmos em conta que a parte que foi agregada com a compra da Hamburg Süd em 2017 ficou para trás”, destaca Lars Jensen.

Outros indicadores apontados pelas consultorias para a Maersk não renovar a frota envolvem questões associadas à descarbonização, de modo a cumprir com os seus objetivos. O CEO da Vespucci Maritime também destaca que a Maersk tem investido em construir apenas navios porta-contentores neutros em carbono. Neste momento, a taxa de renovação da Maersk encontra-se nos 10%, com 33 porta-contentores e cerca de 400 mil TEU, a menor entre os 10 principais armadores do mundo, e muito longe dos 30% da principal concorrente MSC, com 126 navios e 1,5 milhões de TEU. Segundo a fonte do El Mercantil, “a descarbonização é um objetivo principal”, e avança que “queremos ser uma empresa com zero emissões líquidas até 2040 em todas as nossas áreas de negócio”.