A cotação do trigo usado no fabrico de massas está a aumentar nos principais mercados produtores internacionais, devido a menor oferta e qualidade. Consequentemente, em Portugal, o preço das massas deverá voltar a aumentar nos próximos meses, avança o ECO.

A pressão nos preços e na indústria provem de três fatores: da revisão em baixa das estimativas de quantidade para a campanha deste ano na América do Norte e na bacia do Mediterrâneo que, em conjunto, representam cerca de 80% da produção mundial de trigo duro; a degradação dos indicadores qualitativos do trigo colhido no sul da Europa, nomeadamente Espanha, França, Itália e Grécia; e os baixos níveis de stock registados no início da campanha, aos quais se juntam a tensão nos fluxos dos cereais com origem na Ucrânia, Rússia e noutros países da região do Mar Negro.

João Amorim Faria, diretor de compras de commodities do grupo Cerealis, em declarações ao ECO, assume que estes fatores “indicia subidas abrutas de preços”. Quanto ao impacto em Portugal, o responsável garante que o grupo tem “muito clara a responsabilidade no sentido de garantir o regular abastecimento aos nossos clientes, independentemente das dificuldades e esforços de investimento e custos”.

Por sua vez, Pedro Queiroz, diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares (FIPA), reconhece ao ECO que “tem acompanhado com preocupação as perturbações ao nível do abastecimento de matérias-primas e a consequente instabilidade ao nível das suas cotações”. Neste caso específico, indica que “o aumento do trigo duro terá um impacto nos custos de produção, mas dependerá das compras já efetuadas e das cotações dos futuros”.

A agravar o clima de incerteza está a não renovação do acordo de cereais do Mar Negro, uma vez que a Rússia além de ter abandonado o acordo que visa a exportação de cereais ucranianos, tem vindo a destruir a infraestrutura portuária de Odessa e os silos de cereais.

Ainda que tenham sido criadas “vias de solidariedade” através de países vizinhos, a rota do Mar Negro não é descartável para Portugal. “Atualmente, não se trata apenas de más colheitas devido à seca ou às intempéries, mas vivemos uma era em que os alimentos se tornaram também uma ‘arma de guerra’. Neste clima instabilidade, as nossas empresas vivem momentos de dificuldade, em particular numa conjuntura em que a inflação está a ter um impacto negativo no consumo”, afirma Pedro Queiroz.

Numa uma escala global estima-se que os níveis de stock se agravem ainda mais. O International Grains Council (IGC) prevê a quinta campanha consecutiva em que a produção global de trigo duro será inferior à procura, o que irá gerar uma nova redução dos stocks.