O Dia Internacional da Mulher é o mais importante dia do ano para as mulheres. Enquanto feminista é intrigante assistir às mudanças e às transformações dos vários significados deste dia. Preocupa-me perceber que, nestes últimos tempos, este dia esteja a ser utilizado como arma de arremesso político ou social por um lado e, por outro, propositadamente ignorado com a justificação de que “valores mais altos se levantam, porque esta data não é só das mulheres”.

Gostaria que alguém me dissesse, se esta data não é só das mulheres, então, quem é que se está a apropriar da data? E, quais são “os valores mais altos” do que a defesa do respeito pelos méritos alcançados por tantas Mulheres que nos lideram hoje, nas mais variadas instituições, pelos direitos das Mulheres que hoje são jovens adolescentes e que terão sempre o seu percurso dificultado só pelo facto de terem nascido meninas.

No outro dia, estava num restaurante e, a dado momento, ouvi na mesa do lado esta frase: “Joana, nós gostamos muito do seu trabalho, temos planos para si, mas tem de resolver a questão da maternidade este ano.” Se olharmos para o copo meio cheio, o chefe da rapariga até foi simpático, levou-a a almoçar a um restaurante elegante, disse-lhe que o trabalho dela era muito apreciado e inclusive tomou decisões por ela. No final, não sabemos quatro coisas: a Joana decidiu ser mãe? A Joana contou ao marido? A Joana reportou ao chefe qual terá sido a sua decisão? A Joana foi despedida?

Este episódio revela o caminho que ainda teremos de percorrer na defesa dos direitos das Mulheres e na defesa da equidade entre Mulheres e Homens no ambiente de trabalho e na sociedade.

Quando uma empresa contrata uma Mulher, a empresa já saberá que existe algo que só esta Mulher poderá dar à sociedade. Quando uma empresa contrata um homem esta deverá saber que a outra metade deste Homem terá algo que só esta metade poderá dar à sociedade. A isso chamamos “bebés”. “É necessário uma aldeia para criar uma criança” diz o ditado e as empresas não se podem alhear deste conceito de “aldeia”, pois as empresas também fazem parte do dia desta criança, uma vez que ambos os pais trabalham. Portanto, serão ambos responsáveis pelos seus trabalhos e pela criança.

O momento da maternidade e da paternidade deve ser reequacionado e devem ser encontradas formas de ajudar estas Mulheres que acabaram de ser mães, e Homens que acabaram de ser pais, a responder às novas necessidades parentais e promover a conciliação com as tarefas e atividades em ambiente laboral.

Existem muitos fóruns com discussões sobre estes temas, contudo, encontramos alguns lobos vestidos com pele de cordeiro a baralhar conceitos [aos feministas] a seu bel-prazer, numa época e num país em que o estado de maturidade democrática, ou da falta dela, distam anos luz da nossa realidade. Assim, é criada uma cortina de fumo sobre os verdadeiros problemas da sociedade em Portugal.

Mulheres, por favor, não deixem que o vosso tempo de antena seja consumido por homens que se mascaram de “mulheres”, pois isso é uma ofensa à memória de todas as Mulheres que perderam a vida para que vocês pudessem ter o tudo que têm hoje. Não se esqueçam!

Henrique Germano Cardador – 恩里克  |  Marketing & Sales Strategy