Perante o contexto em que nos encontramos, de volatilidade nas cadeias de abastecimento, vivemos uma oportunidade única para as empresas portuguesas ganharem dimensão internacional. Para tal, há que criar nas organizações um ADN de inovação, de testagem e risco, de não ter medo de falhar. E, com isso, estarem mais próximas do sucesso. Como? Desde logo, através da digitalização de processos. Um aspeto crucial para quem assumir comportamentos menos conservadores, através do gosto pelo risco.

Vivemos tempos disruptivos nas cadeias de abastecimento global. A pandemia, numa primeira fase, as tensões com a China e a guerra na Ucrânia exigem, agora, respostas regionais, através da clusterização dessas mesmas cadeias, com a inerente diminuição da sua extensão e, como consequência, da importância de destinos localizados no Sudeste Asiático.

Ora, tudo isto é uma ótima oportunidade para o tecido empresarial português, o qual deve levar em consideração um conjunto de vantagens estratégicas. Destaque para a geografia, numa zona intermédia, entre a América do Norte e a Europa ou o Médio Oriente; as ligações por mar, que podem fazer do nosso país a porta de entrada de grande parte do comércio mundial e; também um fuso horário que facilita os contactos, ao longo de um dia normal de trabalho, seja com os EUA ou com o Médio Oriente.

Em face desta situação privilegiada, cabe às empresas nacionais perceber o seu potencial como players de primeira grandeza ao nível do abastecimento. Mas tal envolve ousadia e pensamento estratégico. Num momento em que Portugal recebe valores avultados, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, com forte relevo para as vertentes de inovação, modernização e desenvolvimento empresarial, os gestores nacionais têm aqui margem para assumir riscos. Dessa forma, exige-se-lhes visão e massa crítica para tomarem decisões.

É, pois, fundamental assumir uma apetência para fugir aos métodos desfasados que ainda fazem parte de muitas organizações. E tal deverá fazer-se através da digitalização de processos, com a definição de um bom roadmap e, dessa forma, com a definição de atividades.

Mais a fundo, estes projetos de digitalização da cadeia de abastecimento implicam a adoção de três pilares: a visibilidade, o planeamento e a execução – com as respetivas soluções que permitam acompanhar e trabalhar estas mesmas dimensões.

Estas ferramentas trarão condições para tomadas de decisão de forma fundamentada e consciente. Mas há, ainda, que encontrar soluções que permitam trabalhar e alimentar as dimensões acima expressas. Desde logo, a criação e implementação de cronogramas de transformação bem definidos no tempo, com prazos de execução devidamente esquematizados, definição sobre a utilização de métricas, bem como dos critérios a considerar para os objetivos do projeto serem alcançados.

Nesse sentido, há que encontrar soluções, não só do lado do produto, mas também na consciencialização para a melhoria destes processos. O que implica uma maior dinâmica no interior das organizações, perante o choque de mentalidades que se verifica, com a ascensão de novas gerações, mais orientadas para a análise de dados, e que têm de transformar esses dados num contexto de negócio, para depois, os decisores de topo definirem os passos a seguir.

Em suma, as organizações devem ser capazes de saber gerir a mudança. Não só por via de uma capacidade de inovação, como também pela forma como as equipas de gestão definem a estratégia, estruturada com base nas três grandes premissas já referidas. É ainda fundamental melhorar o conhecimento técnico dos próprios instrumentos nos processos de negócio (os quais tantas vezes não estão devidamente maduros), como também na alteração dos hábitos de trabalho e cultura empresarial. Por fim, é necessário, sem demora, encontrar alternativas à forma como as equipas de gestão definem a estratégia.

Que se encontrem soluções para a economia portuguesa, a qual, demasiadas vezes, tem um perfil amedrontado e uma mentalidade conservadora. Urge fazê-lo, assim queiram as empresas nacionais estar na linha da frente e aproveitar a conjuntura geopolítica que se apresenta, tirando partido dos mecanismos que lhes permitem ter a robustez financeira que, de outra forma, não seria viável.

Tiago Fernandes | Senior Business Developer (Industry 4.0) | SAP