O vinho deve ser tratado da mesma forma que o tabaco? O seu médico diz-lhe “um cigarrinho por dia não faz mal” ou “um copo de vinho por dia não faz mal”. Será que deveremos encaixotar tudo e rotular tudo? Não deveríamos estar no sentido contrário?

Estas são algumas das questões que gostaria de ver respondidas pelas entidades responsáveis na Comissão Europeia e já agora em países como Portugal, Espanha, França e Itália, enquanto maiores produtores de vinho do continente europeu.

A Irlanda notificou a Comissão Europeia acerca de um projeto que obriga à colocação de informação semelhante à que já existe nos maços de tabaco, mas desta feita nos rótulos das garrafas de vinho (e outras bebidas alcoólicas) com o intuito de reduzir o consumo de álcool. Entretanto, do outro lado do mundo, temos o Japão a apresentar propostas de campanhas para aumentar o consumo de álcool, tudo porque as pessoas entre os 20 e os 40 anos bebem menos 25% de álcool/ano do que as anteriores gerações, e isso, naturalmente, afeta o mercado e o setor.

Por cá, a Europa parece estar dividida entre produtores de vinho e não produtores de vinho, pois Países como Portugal, Espanha, França e Itália estão a reunir esforços no sentido de impedir que este projeto irlandês passe a ser vinculado em mercado europeu, uma vez que, segundo algumas entidades, uma ação destas violaria o princípio de mercado único, pois o mercado irlandês passaria a representar uma exceção na exportação de um produto alcoólico.

Para além deste dado puramente operacional, teremos de refletir sobre a importância do mercado irlandês para as empresas do setor. A Irlanda está no TOP 20 dos maiores importadores de vinho do mundo, Portugal em 2021 exportou 6.3 M€, isto representa um aumento de 40% face a 2020, Espanha 37 M€, França 70 M€ e Itália exportou 40 M€.

Este setor para Portugal representa, grosso modo, 600 M€ em que os seus maiores parceiros são o próprio continente europeu, pelo que uma decisão deste tipo impactará, inevitavelmente, o setor e a produção portuguesa.

Se tiver o pensamento de marketing ativado, sou capaz de imaginar duas ou três formas de converter uma imposição deste tipo num benefício económico, mas essa não é a discussão. O importante, neste momento, será preservar um setor que está em constante combate, composto por pessoas verdadeiramente resilientes dadas as dificuldades impostas muitas vezes pelos próprios estados. O importante é conseguirmos criar sistemas que sensibilizem o consumo moderado de álcool sem rotular as garrafas de vinho, porque o problema não está no vinho, mas em quem o bebe sem moderação.

Quem diria que Baco iria necessitar da ajuda da ciência em defesa do consumo recreativo de álcool!

Henrique Germano Cardador – 恩里克  |  Marketing & Sales Strategy