A inflação dos preços tem afetado as empresas, deixando uma grande incerteza no que está para vir. Contratos a longo prazo começam a baixar as margens de lucro – se não mesmo a dar prejuízo -, custos das matérias-primas e das energias que obrigam a esticar os preços dos produtos finais, preços dos combustíveis que fazem crescer as dificuldades no setor da distribuição. Com todas estas crises, a função de procurement está a ser diferenciadora para a criação de valor e para gerar uma maior capacidade de competição no mercado.
Em entrevista à Supply Chain Magazine, Vítor Ribeiro Gomes, CEO da Pendular, comenta que “é raro o dia em que não temos um aumento”, mas não concorda que a solução passe apenas por aí: “não é só aumentar preços. É ver qual é o impacto dele na estrutura de custos, ver como pode ser mitigado, e depois aplicar soluções”.
Segundo conta, isso aconteceu porque “a maior parte das empresas não estava preparada para gerir o anormal montante de informação”, e é aí que entra a função de procurement, para tentar contornar essa alternativa. “A capacidade de tratar toda esta informação, perceber qual é o impacto que vai ter no meu negócio e quanto é que eventualmente vamos ter de transferir para o nosso cliente final, como é que vamos mitigar a situação, que soluções alternativas é que vamos encontrar , e simultaneamente ainda com disrupções na cadeia de valor, às vezes já nem é só uma questão do preço, é uma questão de disponibilidade do produto”, explica o responsável.
Ao nível das facilities, o nosso interlocutor também nota que, para já, o impacto sentido foi ao nível dos custos da mão de obra, ou seja, “ainda só sentiram os efeitos dos aumentos dos fatores de trabalho, só agora estão a começar a sentir o efeito dos outros fatores, nomeadamente das matérias-primas”, esperando-se ainda um novo impacto com os aumentos salariais no final deste ano.
“O papel de empresas como a Pendular, para a maior parte dos clientes, é absolutamente fundamental porque estamos a falar de um disparo absolutamente anormal, e porque estamos a falar de operadores muito pouco disponíveis a encontrar eficiências e a diminuírem um pouco as suas margens”, aponta o responsável.
Algumas questões que geram dificuldades acrescidas para os fornecedores prendem-se com os contratos de pagamento a longo prazo, bem como com os atrasos. Segundo um estudo da Informa D&B realizado no final de novembro do ano passado, Portugal é líder nos atrasos de pagamento a fornecedores, sendo que à data atingiam uma média de 26,64 dias, mais 12,23 dias que na média da Europa (14,41 dias).
Embora não sinta esse impacto diretamente, aponta que “é um direito constitucionalmente sagrado as empresas ganharem dinheiro e serem rentáveis”, e que de forma a que as empresas se mantenham competitivas, “é importante estar com os parceiros certos e com os clientes certos, e com quem paga bem. Houve quase uma seleção natural, quem paga mal está fora do circuito”.
Face às aprendizagens que a pandemia nos deixou, e à aproximação das cadeias de abastecimento, “vai haver aqui uma substituição daquilo que se produz offshore e daquilo que se produz nearshore. Eu acho que se vai produzir cada vez mais em offshore serviços e contratos, e a lógica de produto vai ser mais nearshore”.
Nota: A restante entrevista estará disponível brevemente na edição #35 da SCMedia News.
Parabéns pela visão e especialmente pela dinâmica! Força