As elevadas temperaturas e a baixa pluviosidade estão a fazer descer de forma perigosa o nível de água nos grandes rios da Europa. Do Reno ao Danúbio ou do Pó ao Loire, a situação é preocupante para o ecossistema, para as pessoas e para a economia. O transporte fluvial nalguns casos pode ficar comprometido, mas não só.

Os grandes rios da Europa além de emblemáticos para as cidades por onde passam são também ricos ecossistemas e importantes rotas económicas. Agora, países de todo o continente debatem-se uma vez mais com temperaturas elevadas e seca prolongada e se os níveis de água baixam, as preocupações, essas, sobem.

O nível da água no Reno é extremamente baixo. A profundidade média do rio nesta altura do ano é normalmente de cerca de dois metros, mas em alguns locais já caiu para menos de um metro. Numa secção estreita do rio, perto da cidade alemã de  Koblenz, o nível da água no início de agosto era de apenas 56 centímetros.

O Reno é uma das vias navegáveis mais movimentadas do mundo, mas níveis baixos significam restrições severas para os navios de carga. Por exemplo, para que uma embarcação possa passar totalmente carregada pela secção estreita perto de  Koblenz, a água tem de ter pelo menos 1,5 metros de profundidade. O fluxo pouco profundo significa que só podem ser carregados até uma fração da sua capacidade – e isto faz subir o preço das mercadorias que transportam. Se o nível da água não subir rapidamente, não falta muito para que alguns navios não possam passar de todo.

Em finais de julho, a água do Pó, o rio mais longo de Itália, expôs algo muito mais perigoso quando os pescadores perto da cidade de Mântua encontraram uma bomba de 450 quilos da Segunda Guerra Mundial. Só foi revelada porque as regiões do norte de Itália, incluindo o Vale do Pó, estão atualmente a debater-se com a pior seca dos últimos 70 anos.

A responsabilidade nuclear do Loire

As pessoas associam o Loire às pitorescas paisagens fluviais e aos típicos “châteaux” de França, mas as suas margens são também o lar da central nuclear de Belleville. E não é por acaso: as centrais nucleares estão sempre localizadas perto de água porque precisam dela para o seu arrefecimento. A central de Belleville descarrega a água que utilizou como refrigerante no Loire, e reabastece as suas torres de arrefecimento com água fresca do rio.

Para proteger a flora e fauna dentro e à volta do rio, são muito apertadas as regras que regem o grau em que as centrais elétricas estão autorizadas a aumentar a temperatura da água do rio. Uma vez atingida a temperatura máxima permitida, estas têm de reduzir a sua produção, ou seja, produzem menos eletricidade. Com temperaturas tão elevadas, os franceses também têm os seus ventiladores e aparelhos de ar condicionado ligados a pleno vapor, o que faz disparar o consumo de energia e não esqueçamos que a torneira do gás russo fechou-se.

São muitas as questões e os desafios que se colocam à logística e às cadeias de abastecimento, não só na Europa, mas em todo o mundo, fruto das alterações climáticas, mas também de todas as convulsões a que temos vindo a assistir durante e agora no pós-pandemia. Onde é possível, o caminho de ferro tem-se revelado uma boa alternativa. Esperemos que não descarrile.