Face à crise de gás que afeta a Europa, ainda no decorrer da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a Gazprom reduziu em 20% o abastecimento de gás à Europa, através do gasoduto Nord Stream. A justificação para o corte foram “motivos técnicos”, apesar de a agência federal de redes alemã (Bundesbetzagentur) considerar que se trate de uma “estratégia de guerra”, avançou a TSF.

A redução de 33 milhões de metros cúbicos teve início na passada quarta-feira, estando agora a fluir apenas 1,28 metros cúbicos por hora. Antes da guerra, o abastecimento russo correspondia a 55% do total das importações de gás alemãs, tendo atingido no final de junho os 26%.

A Rússia já tinha reduzido o volume das entregas por duas vezes, em junho, com a justificação de que o gasoduto não pode funcionar normalmente sem uma turbina que se encontrava em reparação no Canadá, e que não foi entregue devido às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, estando a Alemanha e o Canadá a tentar recuperar o equipamento.

Por sua vez, a Galp “está a fazer o possível” para reduzir o seu consumo de gás, e espera não ter de recorrer novamente ao mercado para garantir o aprovisionamento, segundo apontou Andy Brown, presidente-executivo da Galp.

O responsável da Galp apontou ainda que isso irá depender do “cumprimento do calendário de entregas”, e notou que foram registados alguns constrangimentos na atividade da empresa, ao longo do segundo trimestre, devido ao nível de aprovisionamento. Apesar destas questões, a empresa aumentou os seus lucros em 153% no primeiro semestre, para os 420 milhões de euros.

E para Portugal, qual será o impacto? A Comissão Europeia propôs a redução de 15% no consumo de gás entre 1 de agosto e 31 de março do próximo ano. Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, fez notar em Bruxelas que “Portugal vai ter uma aplicação parcial deste regulamento”, e defendeu que essa redução deve ter em conta as especificidades de cada região, e que Portugal irá rejeitar a proposta, caso seja apresentada nos tempos apresentados.

O ministro justifica a decisão, alegando que isso “impõe uma restrição, sabendo que essa restrição não disponibiliza gás para outros países, porque nós [Portugal] temos, como é do conhecimento público, fracas interligações de gás com os restantes países da União Europeia. Portanto, esta limitação não significa uma disponibilização imediata de gás para outros países […]. Aliás, foi isso que justificou que se criasse um mecanismo específico para Portugal e Espanha relativamente ao mercado de eletricidade”.

Por outro lado, “Portugal, devido à seca, produz menos energia hídrica, o que obriga a produzir mais energia por gás e, como tal, tem aspetos específicos que devem ser tidos em conta do ponto de vista europeu […]. O ano grave de seca obriga-nos a ter produção de energia hídrica abaixo daquilo que é a média dos últimos anos”.

Em entrevista recente ao Polígrafo, Rui Baptista, professor do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), faz notar que “a fragilidade de Portugal no que à energia diz respeito é ainda maior do que no resto da Europa. Dependemos totalmente da importação de combustíveis fósseis para assegurar estabilidade do fornecimento energético que as fontes renováveis não conseguem assegurar”.

Para além disso, também comenta à fonte que “as outras fontes alternativas com peso significativo – solar e eólica – são intermitentes e as geradoras de energia a partir de biomassa, além de não serem tão flexíveis como as barragens ou centrais a gás natural, são insuficientes para a produção de energia elétrica capaz de satisfazer as necessidades do país”, e que no curto prazo não existe atualmente uma alternativa para Portugal, pois mesmo as soluções de energias renováveis “sendo minimizadoras da escassez de outras fontes, não as substituem em termos de flexibilidade, estabilidade e segurança de abastecimento”.

No passado dia 26 de julho os Estados-membros da UE chegaram a um acordo relativamente à redução voluntária da procura de gás natural em 15% para o próximo inverno. Desta vez, “o Conselho especificou algumas isenções e a possibilidade de solicitar uma derrogação ao objetivo obrigatório de redução, a fim de refletir as situações particulares dos Estados-membros e assegurar que as reduções de gás sejam eficazes para aumentar a segurança do aprovisionamento na União Europeia”, pode ler-se no comunicado da Comissão Europeia.

“Os Estados-membros que não estão interligados com as redes de gás de outros Estados-membros estão isentos de reduções obrigatórias de gás, uma vez que não poderiam libertar volumes significativos de gás de gasoduto em benefício de outros Estados-membros”, pode ler-se ainda.