A guerra Rússia – Ucrânia continua a afetar negativamente a economia da UE, colocando-a numa trajetória de menor crescimento e maior inflação em comparação com as previsões da primavera. A previsão económica (provisória) do verão de 2022 apresentada ontem, dia 14, pela Comissão Europeia prevê um crescimento da economia da UE de 2,7% em 2022 e de 1,5% em 2023.

Na zona euro, espera-se que o crescimento seja de 2,6% em 2022 e que modere para 1,4% em 2023. Prevê-se que a inflação média anual atinja níveis recorde em 2022, com 7,6% na zona euro e 8,3% na UE, antes de diminuir para 4,0% e 4,6%, respetivamente, em 2023.

Quanto a Portugal, a Comissão Europeiareviu em alta as previsões para o crescimento do produto interno bruto (PIB) de Portugal em 2022, de 5,8% para 6,5%. No entanto, as projeções de crescimento para 2023 recuaram, passando de 2,7% para 1,9%, de acordo com as previsões económicas de verão do Executivo comunitário. Nas previsões atualizadas, Portugal acaba assim por ser o país da UE que mais cresce em 2022, mantendo o lugar que já tinha nas projeções anteriores, sendo o único com uma projeção superior a 6%. Já para 2023, o país acaba por cair na tabela, registando o 15.º maior crescimento.

A Comissão constata que muitos dos riscos negativos mencionados nas previsões da primavera de 2022 concretizaram-se. A invasão russa da Ucrânia colocou uma pressão ascendente sobre os preços da energia e dos produtos alimentares. Isto, por sua vez, conduz a pressões inflacionistas globais, minando o poder de compra das famílias e desencadeando uma resposta de política monetária mais rápida do que anteriormente esperado. A atual desaceleração do crescimento nos Estados Unidos aumenta os efeitos económicos negativos da política COVID zero da China.

A economia da UE permanece particularmente vulnerável à evolução dos mercados energéticos devido à sua forte dependência dos combustíveis fósseis russos, e o crescimento global mais fraco reduz a procura externa. A boa dinâmica alcançada com a recuperação do ano passado e um primeiro trimestre um pouco mais positivo do que inicialmente se esperava, deverá sustentar a taxa de crescimento anual em 2022. Espera-se, ainda assim, que a atividade económica seja moderada durante o resto do ano, apesar da promissora estação turística de verão. Em 2023, espera-se que o crescimento económico trimestral ganhe dinamismo, sustentado por um mercado de trabalho resiliente, inflação moderada, apoio do Plano de Recuperação e Resiliência e a ainda grande quantidade de poupanças excedentárias.

Globalmente, a economia da UE continuaria a crescer, embora a um ritmo significativamente mais lento do que o anunciado nas previsões da primavera de 2022 em Bruxelas.

A inflação atingiu níveis recorde até junho, uma vez que os preços da energia e dos alimentos continuaram a subir e as pressões sobre os preços chegaram aos serviços e outros bens. Na zona do euro, a inflação aumentou fortemente no segundo trimestre de 2022, de 7,4% em março (numa base anual) para um novo recorde de 8,6% em junho. Na UE, o aumento da inflação foi ainda mais pronunciado, tendo aumentado um ponto percentual completo entre março e maio, de 7,8% para 8,8%.

As previsões da inflação foram revistas consideravelmente para cima em comparação com a previsão da primavera. Para além do aumento acentuado dos preços no segundo trimestre, espera-se que um novo aumento dos preços do gás na Europa chegue aos consumidores através dos preços da eletricidade. No terceiro trimestre de 2022, a inflação subiria para um pico de 8,4% numa base anual na zona euro, antes de descer de forma constante depois disso e descer abaixo dos 3% no último trimestre de 2023, tanto na zona euro como na UE, à medida que se dissipassem as pressões das restrições de oferta e dos preços das matérias-primas.

Os riscos para as perspetivas de atividade económica e inflação dependem em grande medida da evolução do conflito e, em particular, do seu impacto no fornecimento de gás à Europa. Novos aumentos nos preços do gás poderiam aumentar a inflação e amortecer o crescimento. Os efeitos de spillover poderiam, por sua vez, amplificar as pressões inflacionistas e levar a um maior aperto das condições de financiamento, o que não só afetaria o crescimento como também aumentaria os riscos para a estabilidade financeira. A possibilidade de um ressurgimento da pandemia na UE poder levar a mais perturbações na economia é um cenário que não pode ser excluído.

Os riscos para a economia mantêm-se segundo a Comissão “elevados e dependentes da guerra”.