Conhecida pelos seus vernizes e batons, a cosmética norte-americana Revlon declarou falência, segundo avança a Reuters. A fabricante apontou as disrupções na cadeia de abastecimento, a falta de matérias-primas e as exigências de pagamento adiantado por parte de fornecedores como os responsáveis pelo desfecho desta história, 90 anos depois da criação da empresa.

Na declaração de falência, a marca norte-americana justificou que os problemas de abastecimento, durante a primavera, provocaram um aumento acentuado da procura por ingredientes usados ​​para fabricar os seus produtos. Ao mesmo tempo, fornecedores que tradicionalmente ofereciam até 75 dias para pagamento começaram a exigir que este fosse feito antes de novos pedidos. Paralelamente, a escassez de trabalhadores e a inflação só contribuíram para o avolumar dos problemas.

“Por exemplo, um batom Revlon requer entre 35 a 40 matérias-primas e componentes, cada um dos quais é fundamental para trazer o produto ao mercado”, escreveu Robert Caruso, que foi contratado como diretor de reestruturação da Revlon. “Com a escassez de ingredientes necessários em todo o portfólio da empresa, a concorrência por qualquer material disponível é acentuada”, justificou.

O colapso das finanças da empresa segue-se a uma queda no setor de cosmética e beleza durante o auge da pandemia. Entretanto, o grupo foi atingido este ano pela escassez de ingredientes e por aumentos acentuados dos custos, enquanto as vendas continuaram a registar um atraso em relação aos níveis pré-pandémicos.

“Já todos ouvimos falar da importância da supply chain nas empresas. No fundo,  é fazer com que as empresas não apareçam nas notícias por situações negativas. Neste caso, a supply chain não conseguiu evitá-lo e devido à crise de abastecimentos/pagamentos, a Revlon declara falência”, comenta à Supply Chain Magazine, Rui Oliveira, business partner da ONE Alliance. “Nos últimos anos, os resultados já não eram crescentes e foi sendo ultrapassada por outras marcas, o que está associado à estratégia da empresa”, realça ainda Rui Oliveira.

A Revlon foi fundada em 1932 pelos irmãos Charles e Joseph Revson e Charles Lachman, que começaram a vender vernizes para as unhas. Em 1985, a empresa foi vendida à MacAndrews & Forbes — que continua a ser a principal acionista e é propriedade de Ron Perelman. Em 2016, a marca comprou a Elizabeth Arden, com o objectivo de afastar a concorrência, albergando também marcas de perfumaria de celebridades como Britney Spears ou Christina Aguilera. Contudo, ao longo dos últimos anos, as vendas da empresa foram ficando aquém e o ano passado caíram 22% em relação aos níveis de 2017. Em contraste, concorrentes como a CoverGirl, propriedade da Coty Inc, ganharam visibilidade no mercado, investindo fortemente para melhorar os abastecimentos.

Rui Oliveira lembra que no caso da Revlon o que coloca o último prego “são mesmo as falhas de abastecimento e as alterações forçadas em termos de pagamentos. A conversão cash to cash aumentou de tal maneira que aliada às disrupções da supply chain e consequentes falhas de abastecimento levou à atual situação.  E isto passa-se hoje em todas as indústrias. Continuo a pensar que há soluções, mas deve dar-se o necessário foco à supply chain, a começar pela gestão de topo das organizações e pela sua própria estratégia. Quem ainda não tomou iniciativas relevantes neste campo, deveria fazê-lo ou poderão ser os próximos a aparecer nas notícias”, sublinha ainda o business partner da ONE Alliance.