Esta foi a pergunta para a qual procurei respostas, obviamente enquanto logístico!

Em todas as pesquisas e informações recolhidas em artigos, publicações e declarações políticas, sobre o assunto obtive várias respostas potenciais, que poderiam ser satisfatórias para o público em geral:

  • Alguns focaram-se muito na balança do comércio internacional, que em 2021 rondou os 830 milhões de euros de défice. A conclusão sobre este posicionamento é que, efetivamente, apesar de Portugal não ter um volume muito elevado percentualmente, o valor das exportações tem relevância para alguns setores de atividade, principalmente para as empresas que têm a produção direcionada para este mercado.
  • Outros, mais nas medidas que o Governo apresentou sobre as linhas de crédito para “apoiar” as empresas que tenham dificuldades devido ao aumento dos preços na aquisição das matérias-primas. Efetivamente é uma realidade e é necessário desenvolver e criar condições para que o mercado possa reagir eficazmente a esta pressão sobre preços, que consequentemente influenciam os produtos transformados e acabados.
  • Deparei-me também com diversas informações sobre o processo das exportações para a Rússia:
    . os transportadores e os operadores logísticos criaram algumas dificuldades no fornecimento de serviços de transporte para esse destino inicialmente;
    . as seguradoras de crédito desresponsabilizam-se acerca dos riscos da exportação e informaram que quem exporta para a Rússia está por sua conta e risco.

Além destes três focos de atenção sobre o tema, ainda temos o posicionamento do Governo, da Europa e do mundo perante esta infeliz situação que vivemos.

Estou completamente de acordo com os pacotes de sanções relativos à importação de produtos da Rússia por parte de todos os membros da comunidade europeia. Penso, no entanto, que deveríamos (Europa) aprender/refletir um pouco mais sobre esta situação e acredito que se venha a evoluir nesse sentido.

As grandes marcas globais saíram da Rússia. É um facto. As limitações dos swift para a maioria dos bancos Russos foram publicitadas continuamente para pressionar a paragem desta agressão da Rússia.

Mas as exportações para Rússia não são e não foram, pelo menos nas minhas limitadas pesquisas, abordadas de forma clara e objetiva. Vejamos:

1.º As exportações para a Rússia continuam a realizar-se?
2.º Os transportadores e operadores logísticos estão a responder?
3.º Como está o processo alfandegário de exportação?

Para meu espanto e enorme surpresa, deparei-me com situações contrárias e verifiquei que continuamos as exportar para a Rússia. Entendo que as empresas que têm negócios em curso, contratos, que dependem destes, seja normal que continuem a exportar. Da mesma forma que os transportadores e operadores logísticos que levantem a resistência inicial e continuem a operar nem que seja com parceiros de leste. Bem sabemos como funcionam os transportes, em que a subcontratação é sempre uma boa solução alternativa com relevância e grande importância.

Quando faço alguns contactos sobre o processo de alfandegamento da mercadoria para exportar… sem qualquer problema ou restrição?! O processo, que por vezes é complexo e com muitas burocracias a serem cumpridas, certificados de origem, etc., atualmente está mais ágil que nunca. Também é verdade que existirem menos exportações para a Rússia facilita o processo.

A minha indignação é a seguinte: faz sentido o nosso Governo, ou mesmo a União Europeia, não tomar posição clara sobre este assunto e assumir que o embargo deverá ser também às exportações? E sim, criarem linhas de apoio e suporte para as empresas que tenham dificuldades em encontrar soluções para a falta do volume de negócio que irão ter.

Partilho a minha opinião sobre este tema, porque os posicionamentos políticos e os embargos económicos provocam impactos nas decisões e também influenciam eventuais negociações que venham a existir. Contudo, não deveriam ser os empresários a decidir, os transportadores a encontrar soluções para ultrapassar as dificuldades operacionais para a realização do transporte.

A liderança empresarial é complicada complexa e difícil, os impactos das decisões podem ser importantes e influenciar positiva ou negativamente… Os líderes políticos e religiosos têm por vezes que tomar decisões que vão influenciar a história do mundo!

Devemos, ou não exportar, para a Rússia?

Rui Silva | Co-founder | COPLOG – Consultores em Operações de Produção e Logística