São muitos e de diferentes naturezas os desafios que se colocam ao setor marítimo. A NOVA School of Science and Technology (FCT NOVA) e a Escola Naval, em parceria, avançaram para um mestrado em logística marítima, de caráter internacional, cuja primeira edição arranca no ano letivo de 2022-23. Conversámos com Helena Carvalho, professora da FCT Nova e coordenadora do mestrado para conhecer as mais-valias e linhas de força do mesmo.
“Existe uma lacuna de competências na logística marítima, a todos os níveis de qualificação dos seus recursos humanos. Esta lacuna é reconhecida por várias entidades, como a União Europeia e a OCDE, e também pelo tecido empresarial. Foi neste contexto que surgiu o projeto MarLEM – Maritime Logistics Engineering and Management, cofinanciado pela União Europeia, e cujo objetivo é contribuir para o desenvolvimento das denominadas Blue Skills ao nível dos quadros superiores das organizações”, contextualiza Helena Carvalho.
O Mestrado em Logística Marítima é, pois, um resultado fundamental desse projeto e foi desenhado para dotar os seus estudantes de competências relevantes nos domínios da inovação, digitalização, sustentabilidade e soft skills, incluindo o raciocínio crítico e uma predisposição proativa.
Helena Carvalho considera que se trata de “uma oferta formativa diferenciadora” e explica que os destinatários são “profissionais com pelo menos 5 anos de experiência. Tem a duração de apenas um ano: no primeiro semestre serão lecionadas 9 unidades curriculares; no segundo semestre, de caráter prático, os estudantes realizam um estágio, e ou desenvolvem um projeto numa empresa, ou num centro de investigação. Por outro lado, o mestrado tem um caráter multidisciplinar integrando conhecimentos de áreas tão diversas como engenharia e gestão industrial, operações, tecnologia, gestão, direito marítimo ou administração marítima e portuária. O objectivo é proporcionar uma visão sistémica e integrada do fenómeno da logística marítima”.
Em termos de foco e metodologia, a coordenadora do mestrado explica que o foco está “não só nas vertentes de conhecimento técnico, como a avaliação de projetos de investimento, mas também em soft skills, como negociação ou liderança. Será usada uma abordagem didático-pedagógica ativa e dinâmica, com métodos de ensino ativos e aprendizagem baseada em problemas”. O corpo docente pertence às instituições envolvidas, mas também contarão com professores e investigadores de várias universidades nacionais e internacionais, além de especialistas da indústria.
O primeiro semestre, acomoda 10 semanas de aulas, sendo que as 9 unidades curriculares são oferecidas em formato de módulo de cerca de 5 dias, com aproximadamente 6 horas diárias. De forma a acomodar a atividade profissional dos estudantes, está prevista uma semana sem aulas entre cada unidade curricular. “Este regime permite assegurar a qualidade do ensino, criando dinâmicas de aprendizagem entre os alunos, e promovendo a partilha de experiências e conhecimentos. Estão também previstos vários momentos de networking com os estudantes, parceiros académicos e industriais, assim como visitas de estudo a portos e empresas nacionais”, salienta Helena Carvalho.
Uma outra novidade deste Mestrado é em 2023 proporcionar ações de mobilidade financiadas entre a Noruega e Portugal. Quatro estudantes do Mestrado poderão realizar o estágio ou projeto numa organização na Noruega e um estudante da NTNU (Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega), por seu turno, terá oportunidade de realizar unidades curriculares ou o seu estágio ou projeto em Portugal. Estas ações de mobilidade são realizadas no âmbito do projeto M4ML – Mobility for Maritime Logistics financiado pelas EEA Grants.
À velocidade a que tudo está a mudar no setor, a formação contínua revela-se cada vez mais importante. No caso do mestrado em logística marítima, este permite quer o reskilling de profissionais, atraindo mais profissionais para o setor, quer o upskiling contribuindo para a qualificação dos colaboradores das empresas, assim como a valorização pessoal e profissional dos colaboradores e a retenção de talento nas empresas e organizações.
“Há áreas de atividade em que a evolução é notória e outras em que as coisas parecem ter parado no tempo ou evoluído de forma muito lenta. A logística marítima, em particular o transporte marítimo e as operações e gestão portuárias, tiveram uma evolução relativamente lenta até há algumas décadas e a sua própria génese milenar alimentou essa perspetiva. As mudanças relativamente recentes, sobretudo a globalização da economia e do comércio, trouxeram exigências a que este setor tem dado resposta, numa base competitiva, com ganhadores e perdedores. As exigências ora emergentes, como a digitalização, a sustentabilidade e descarbonização, ou a inovação tecnológica acelerada, que é simultaneamente promessa e ameaça, obrigam os vários intervenientes, instituições de ensino superior, empresas e autoridades, a uma atualização contínua de competências”, enfatiza Helena Carvalho.
As aulas terão início no fim de setembro 2022 e decorrem em regime presencial, no campus da FCT NOVA e da Escola Naval, ambas localizadas no concelho de Almada. A 2.ª fase de inscrições decorrerá de 15 de junho a 15 de julho.
