Sempre que a Europa teve poder, a sua geografia de influência não era o seu território, antes pelo contrário, a influência das potências europeias estava fora do continente. Os países europeus nunca tiveram oportunidade de exercer a sua influência sobre outros países europeus, senão pela força.

A França, como potência europeia, está a trilhar o seu caminho com o propósito de garantir a sua independência energética e sobretudo a dependência de outros países no que diz respeito às fontes de energia. É o segundo maior gerador de energia nuclear do mundo, seguindo de perto os EUA, e está a fazer pressão para que a Comissão Europeia assuma a energia nuclear como verde, qualquer tom de verde, o importante é que seja verde. Caso a Comissão ceda, este novo tabuleiro energético mudará o espectro da potência nuclear que é a França.

Uma das formas de pressionar os parceiros europeus a utilizar a sua energia nuclear passa por negar a possibilidade de investimento e construção de pipelines de forma permitir a ligação da Península Ibérica aos países da Europa central, caso permitisse esse desenvolvimento estratégico da ligação de portos, como o de Sines, ao centro da europa, países como a Alemanha ou Itália, servir-se-iam do gás natural liquefeito descarregado no porto de Sines (p.e.). Contudo, esse passo faria da França um território de passagem, arrecadaria tarifas decorrentes do negócio do gás, mas passaria ao lado de um grande negócio europeu. É precisamente neste ponto que a Europa, em pleno século XXI, passou a ter poder e influência em território europeu, pois a França é um grande gerador de energia, mas esta é nuclear, o que levanta algumas interrogações nos restantes países europeus, que estão a trabalhar no sentido de desativar as suas centrais nucleares. A Alemanha, em concreto, ao longo dos anos tem vindo a trabalhar nesse sentido, mas o resultado é que a solução de fornecimento de energia, passaria em grande parte pelo gás russo, mesmo com Obama e Trump a procurarem impedi-lo, disponibilizando-se a exportar gás liquefeito (mais uma vez, uma oportunidade para a Península Ibérica), e a França a disponibilizar a sua energia nuclear, sabendo que (infelizmente) não será possível transportar, via pipeline, o gás de Sines para a Alemanha.

Até 2050, a França tem projetado o investimento em mais 5 novas centrais nucleares, bem como a manutenção profunda das centrais existentes, uma vez que as futuras necessidades energéticas terão um incremento na ordem dos 40%.

Quem é que irá fazer face a esta necessidade? Não serão as renováveis, porque, de uma forma simplista, pois poderei falar das renováveis noutra oportunidade, a humanidade necessita de energia quando faz vento e quando não faz, quando chove e quando não chove, e quando faz sol e quando não faz, pelo que não representam uma solução plena. As energias renováveis são complementares e não concorrentes, o carvão e o nuclear são concorrentes.

O país, estrategicamente plantado entre a Península Ibérica e o resto da Europa, está a surfar a onda da carência e de altíssimos custos energéticos para se fazer reconhecer como a fonte de energia europeia. Isto, por si só, não tem nada de errado, o problema da energia nuclear são os seus resíduos, que por sua vez são radioativos e não existem planos de utilização ou reutilização desses resíduos radioativos (isótopos radioativos), porque os países acreditam que esse será um problema para resolver depois.

Existem um sem número de oportunidades de negócio quando falamos de energia. E um sem número ainda maior, se esta for verde. Portanto, que seja.

Henrique Germano Cardador, Corporate Strategy Analyst Europe & Africa