A visão que temos do mundo parte do local onde estamos.

Há tempos fiz um exercício muito interessante com uma professora universitária de Estratégia e Segurança (que se estiver a ler este artigo, bem haja à Mestre Andreia Pedrosa), que consistia em olhar para os nossos dilemas estratégicos do ponto de vista de um americano, de um chinês, de um europeu e de um africano. Este exercício permite ver as alterações de interdependências consoante a visão que temos do outro (país, continente ou parceiro) e quais as alterações consequentes na visão que temos de nós consoante a nossa localização. Na logística a localização é uma peça fulcral que altera a nossa visão estratégica e a forma como a Europa vê, e é vista, por uns e por outros. Para uns é mais pequena do que se imagina, e pasme-se, menos estratégica.

Os EUA e a China podem realizar os negócios que entenderem sem o envolvimento da Europa, mas esta aparece no radar quando a influência de uma das partes está prestes a ser testada, sendo nestas circunstâncias que cai a frase “menos estratégica”. É precisamente por sermos mais pequenos do que as duas superpotências, que teremos aqui uma oportunidade para sermos mais estratégicos e tomarmos o lugar do contrapeso nesta balança que tem nos pratos os EUA de um lado, e China do outro. Estes três atores têm formas distintas de pensar o desenvolvimento, os EUA assentam na identificação de um inimigo comum; o desenvolvimento da China está assente na perpetuação do crescimento pelas próximas gerações, ou seja, teremos de ter presente o facto da linha do horizonte estar a 50 anos; a grande diferença para a Europa é que o desenvolvimento Europeu está assente no medo, medo da desagregação, medo da pandemia, medo da guerra, medo da crise que se traduz nas suas políticas.

A Europa tem de tirar partido do facto de, embora existam negócios que são realizados nas margens do Oceano Pacifico, existem outros que são realizados com as mesmas partes, mas através do Oceano Atlântico. As empresas europeias, e por conseguinte as portuguesas, devem enfrentar a aventura do mercado internacional conscientes de que as políticas dos países que as circundam também entram nos seus orçamentos e que fazem parte de um continente que é um dano colateral para as duas superpotências, desta forma teremos de identificar os melhores parceiros comerciais, por interesse e para benefício.

Hoje, mais do que nunca, a regra de não podermos ter um só fornecedor, ou um só grande cliente, tem de ser central, com o acréscimo do espaço geográfico e o contexto político em que estes (clientes e fornecedores) estão inseridos, pois permite diversificar a minha supply chain levando-me assim a antecipar problemas, incrementar vendas e gerir expectativas na relação comercial.

Por isso, antes que o Oriente perceba que a Oceânia é uma ameaça à sua soberania, vamos exportar papel, porque eles compram.

Henrique Germano Cardador, Corporate Strategy Analyst Europe & Africa