Com a situação atual, de incerteza, alavancada pela guerra, estamos perante um cenário de riscos de abastecimento aliado ao aumento exponencial dos custos produtivos.

A este cenário, muitos já falam em “estagflação”. A boa notícia é que não se vê uma crise na procura, por agora.

Custos produtivos, muito além das matérias-primas. Já tínhamos entrado em 2022 com preços de eletricidade, gás, produtos de embalagem, entre outros em valores recorde.

Agora, a incerteza é maior, e a escalada de custos ainda maior.

Perante isto as empresas têm a dificuldade na tomada de decisão de como agir perante este aumento de custos e a viabilidade de passar os mesmos na cadeia de abastecimento.

A somar a esta dificuldade, estamos perante a incerteza de abastecimento de certas matérias-primas.

Focando no setor automóvel, onde já tínhamos uma crise de abastecimento de semicondutores, agora segue-se a crise de cablagens, e a incerteza do que verá a seguir.

No setor alimentar, a título de exemplo, fala-se da eventual escassez e aumento de preços de cereais.

O estado perante estas situação está a atuar a identificar fontes alternativas de fornecimento de commodities oriundas destas regiões. Ao serem identificados, temos que estar cientes que estas soluções vão acarretar custos. Esta consciência dos impactos é fundamental para existir uma estratégia de comunicação clara, por forma aos agentes económicos saberem como atuar.

Para além desta ação, é fundamental o estado antecipadamente ter modelos de lay-off simplificado a aplicar perante a escassez de matérias-primas.

Esta flexibilidade é necessária para a viabilidade das empresas.

Com a nova realidade do mundo, há uma necessidade de revisão do PRR e PT2030 com maior foco na re-industriliazação da Europa.

As associações empresariais têm um papel preponderante de verificar perante os seus membros as dificuldades e agilizar a comunicação com entidades estatais.

Mas isto não chega, as associações empresariais devem ter um papel conciliador e agregador de soluções macro para os seus parceiros. Por um lado, existe a necessidade de análise macro das cadeias de abastecimento (commodities até produto final) para que seja uma guia de suporte aos seus associados. Por outro lado, promover as sinergias no setor. Com estas sinergias pode-se proceder a compras bloco de matérias-primas standard como um todo, pode-se partilhar matérias primas (oferta/procura), partilhar capacidades produtivas, partilhar meios de transporte, e muito mais.

A questão é se esta minha é  uma visão utópica ou exequível? Poderão as empresas colocar de lado os seus próprios interesses imediatos, perante o bem maior de todos a longo prazo?

Rui Oliveira, Business Partner, ONE AUTOMOTIVE ALLIANCE