O Blockchain veio para ficar e para regular as transações entre vários intervenientes e, deste modo, poderá num futuro próximo deixar fora do palco dos negócios as empresas que não saibam investir nesta tecnologia e tendência!

Esta tecnologia, o Blockchain, foi inicialmente criada para assegurar a plataforma Bitcoin, mas rapidamente adotada para os segmentos de negócio não financeiros, como por exemplo os fluxos logísticos.

Na realidade usar Blockchain não é mais do que estar disponível para partilhar dados num ambiente descentralizado, mas seguro, onde as informações não podem ser modificadas e são sujeitas a inúmeras aceitações por parte dos intervenientes que compõem a rede ou banco de informação. Os dados que navegam pela rede descentralizada, após validados, são criptografados e assim tornam-se num ativo online não alterável.

Um processo em Blockchain agrupa vários passos que ocorrem de forma célere e consistente, dos quais se destacam:

  1. Inicio da transação – duas ou mais entidades decidem iniciar um processo de partilha de dados;
  2. O bloco/banco de dados – a informação entra dentro de uma rede de informação descentralizada;
  3. Consistência – é definido um conjunto de validações e regras que os computadores/intervenientes na rede executam de modo a validar a consistência da informação que foi colocada a circular;
  4. Criptografia – assim que a informação é validada é constituído um bloco de dados criptografado;
  5. Execução – a transferência e partilha de informação é realizada entre as entidades.

Exemplos práticos desta tecnologia na logística começam a proliferar por todo o mundo especialmente em grupos empresariais grandes e com fortes capacidades de investimento.

Segmentos de negócio, como por exemplo, vestuário, alimentos, medicamentos, é crucial estabelecerem-se acordos inalteráveis em que as suas fases possam constantemente ser controladas ao longo da supply chain, como o fluxo de transportes e saber-se por onde anda a mercadoria, verificar a capacidade de produção instalada e saber-se quando está a ser produzido o lote adquirido, verificar prazos de validade e até saber-se como e em que condições os mesmos estão armazenados.

A otimização de todas as variáveis numa cadeia logística e de distribuição confere maior eficiência, estabelece relações credíveis e de confiança entre os agentes económicos, assegura transparência em todas as fases dos processos perante os interlocutores que estejam envolvidos, reduz muito significativamente o aparecimento de falhas e, no final, permite uma racionalização e otimização de custos.

Sendo uma tecnologia que está a ser bem aceite e a ganhar mais adeptos no mundo da logística, a adoção ou não adoção destes conceitos e práticas põe em causa a competitividade das empresas a longo prazo, o que, invariavelmente, nos coloca a discutir o tecido empresarial português e a sua forma de estar relativamente a investimento e partilha de dados.

99,9% do tecido empresarial português é composto por PME’s, das quais 96% são microempresas e apenas 0,5% empresas de média dimensão. A taxa de investimento de empresas portuguesas (não financeiras) ronda os 20%.

Estes indicadores só por si não são muito favoráveis a tecnologias como o Blockchain e se aliarmos alguma renitência na partilha de dados junto das PME’s poderá ser um grande obstáculo ao desenvolvimento desta forma de fazer logística e de estar assim ligado aos grandes players.

Será importante o aparecimento de entidades que promovam a desmistificação da partilha de dados e bons incentivos fiscais ao investimento em tecnologia de modo a permitir que as nossas empresas também contribuam com informação para os blocos e bancos de dados que diariamente proliferam nas cadeias de Blockchain tornando assim o mundo logístico mais eficiente para todos os seus agentes, quer fornecedores, quer intermediários, quer clientes finais.

Nuno Sacramento | Logistics Director | Tempus