É do conhecimento de todos que a pandemia de COVID-19 despoletou uma série de interrupções em inúmeras cadeias de abastecimento. Estas interrupções foram sentidas de várias formas, tamanho e intensidade, tais como a dependência de uma única fonte de abastecimento, que ou estava no centro deste tsunami ou de alguma forma foi afetado por ele, ou de outra forma assistimos à procura de bens sem paralelo que resultaram em ruturas. Estes problemas já tinham sido experienciados no passado, apenas foram exponenciados pelo efeito da causa em questão.

O que é facto é que, durante os últimos anos, assistimos, e praticamos, cadeias com redução de stocks, com gestão de stocks no “fio da navalha”, sem que se tivesse perceção das implicações que essas práticas tinham, e o seu efeito para aumentar o risco na cadeia de abastecimento.

Sou um grande adepto de cadeias lean, e não promovo de forma alguma o abandono desses modelos. No entanto, as interrupções que experienciamos nos últimos tempos, obrigam os gestores a repensar estes modelos e a perceber a cadeia de uma forma alargada, para entender, por exemplo, o efeito de chicote que podemos introduzir. Logo, é nossa obrigação encontrar um novo equilíbrio, que não deixa de ser um dos objetivos dos profissionais de logística. Perceber o risco que as interrupções na cadeia causam, criar ou aprimorar matrizes de risco, de forma a encontrar o tão desejado novo equilíbrio.

Para atingir este objetivo, e na minha humilde opinião, não é necessário nada que ainda não conhecemos, apenas melhorar a integração da cadeia, a montante a jusante, derrubar barreiras, construir relacionamentos fortes e duradouros, e ter sempre presente a importância de diversificar, de acordo com o risco, para evitar o problema do abastecimento de fornecedor único.

É também nossa obrigação aumentar a visibilidade ao longo de toda a cadeia e, neste aspeto, os intervenientes da cadeia, em particular os aprovisionadores e planeadores, já conhecem este desafio e a dificuldade que tem sido aplicar e manter.

Na atual sociedade do conhecimento, na era 4.0 e da transformação digital, juntam-se os ingredientes para que possamos pôr mãos à obra e em equipa obter uma visão global desde o início até ao fim das exigentes cadeias de abastecimento. As tecnologias disponíveis, como IoT ou RFID permitem, desde a linha de produção, passando pelos movimentos nos diferentes níveis da cadeia, aos gestores perceberem os impactos e, de uma forma pró-ativa, fazer os ajustes necessários para ir ao encontro de outro dos seus grandes objetivos: o serviço ao cliente.

Como sempre, o sucesso passa pelo relacionamento de todos os intervenientes, pelos conhecedores, e estes colocarem em prática a partilha de informação e de conhecimento e, após isso, colocar a tecnologia para melhorar o desempenho e tornar a cadeia de abastecimento mais eficiente.

Nuno França | Head of logistics | Revigres