Em janeiro de 2021 todos pensámos que esse seria o ano do retorno à normalidade. No entanto, agora que chegámos a janeiro de 2022, estamos mais frios e calculistas e o cenário mais otimista é de que a crise irá continuar pelo menos durante o primeiro semestre. Eu acredito que o futuro, a curto prazo, irá depender de 4 P’s, mais concretamente: Produtos, Preços, Pessoas e Política(s).

Espera-se que a disponibilidade dos produtos continue a ser diminuta, especialmente nos semicondutores e em outros produtos que os requerem como componentes; quanto aos preços, irão manter-se elevados e inclusivamente o preço de algumas das matérias-primas poderá subir durante os primeiros meses de 2022 e, claro, que no fim das contas, as empresas irão repassar parte desses custos para os consumidores.

Outro aspeto importante é, quer queiramos, quer não, que a inflação está para ficar e não será transitória e, como tal, seria de bom tom que os salários a acompanhassem, algo sempre difícil em Portugal.

As decisões políticas relacionadas com inflação, as políticas comerciais tomadas pelas maiores empresas multinacionais, além das políticas de imigração, tanto na chamada de mão de obra barata, como na mais qualificada, terão certamente um impacto considerável em 2022.

Dada a escassez ou mesmo a total indisponibilidade de produtos e matérias-primas, além dos problemas contínuos que se fazem sentir nas cadeias logística e de supply chain a nível global, farão com que a lealdade e confiança dos consumidores seja posta à prova durante este ano de 2022 e se calhar até mais além.

Com tempos de espera tão elevados, a necessidade de uma boa gestão na atenção e experiência do consumidor torna-se mais importante que nunca, devendo os diretores comerciais ensinar e indicar às suas equipas que o trabalho não será apenas gerir a irritação dos clientes mas, quem sabe, também recomendar aqueles produtos que se encontram esquecidos ou presos nos armazéns.

Existem outras certezas para este novo ano e uma delas é que a procura continuará a exceder a oferta e o consumismo é algo que efetivamente existe. Depois de 2020 e 2021 com poucos motivos para gastar dinheiro, espera-se este ano um aumento do apetite dos consumidores na compra de produtos físicos.

Infelizmente, existe igualmente um lado mais negro, pois enquanto as empresas se concentram na sobrevivência, isso leva a um menor foco na gestão do risco das cadeias de logística e de supply chain e de certeza que organizações menos amigas e bondosas não irão perder a oportunidade de explorar essas situações. A análise que obrigatoriamente terão que efetuar irá conduzir a uma transformação das cadeias de logística e de supply chain, conforme as empresas encontram o equilíbrio entre a sobrevivência e a gestão do risco e combate às possíveis fraudes.

Além do indicado, penso que irá igualmente ocorrer uma reação exagerada em relação à crise que vivemos. Com o medo de não existirem stocks suficientes, os retalhistas irão encomendar quantidades de produtos significativamente maiores do que aqueles que se encontram disponíveis, colocando mais pressão nos produtores e fabricantes, ao mesmo tempo que se torna mais difícil às pequenas e médias empresas fornecerem produtos aos consumidores.

Toda esta situação irá resultar em preços mais altos, menor seleção de produtos e prazos de entrega mais longos e o que poderá acabar por ocorrer é que o mercado será inundado de produtos e talvez serviços que os consumidores não querem.

Também acredito que em 2022 iremos assistir a mais investimentos nas cadeias de logística de supply chain, sobretudo no rastreamento e no e-commerce e correspondentes serviços de final mile delivery. As empresas procurarão atualizar-se e adotar as soluções de tecnologia mais recentes e serão essas as que terão maior visibilidade em todo o processo operacional, algo inestimável numa gestão tão imprevisível como a que se vive agora.

Marco Morgado | Supply Chain & Operations Management