A cadeia de abastecimento tem sido muito afectada, inicialmente através da pandemia, e agora com disrupções do transporte. A indústria têxtil está a sentir os abalos recentes e, apesar de não ser um fenómeno novo, está a deslocalizar os centros de produção do negócio da moda.

A logística têxtil também teve de lidar com a situação da pandemia no mercado asiático e com os impactos do transporte marítimo como aumento do custo dos contentores, bem como da energia e das matérias-primas.

“As marcas tiveram que fazer mudanças em suas estratégias de produção para reorganizar a sua cadeia de suprimentos”, comenta Liliana Labarthe, directora de marketing da Logisfashion. A responsável também comenta que é necessária uma “maior criatividade na gestão empresarial de desenvolvimento de produtos”, por parte das empresas têxteis, para enfrentarem as constantes mudanças, e que estas devem promover a diversificação na oferta ou na origem da produção, de modo a minimizar as rupturas.

Caso disso é a Mango, que continua a procurar alternativas e soluções “para garantir o normal funcionamento da nossa cadeia produtiva e de abastecimento da Ásia”. Face aos problemas actuais relacionados com o transporte mundial, a empresa confirma que este entrave “acelerou o processo de reorganização da estrutura de abastecimento que a Mango realiza há meses”.

O sector têxtil está a adaptar-se às novas circunstâncias, mas a mudança de mentalidade para realocar a produção têxtil já começou há vários anos, ainda antes da pandemia. Seja por esta ou por outra razão, a realocação depende da estrutura das colecções e, portanto, contam com três factores cruciais para a aquisição: o material, ou tipo de tecido, o preço e a data de entrega.

“A racionalização da oferta não implica necessariamente a renúncia à variedade de produtos, mas sim a procura de alternativas de produção para manter a variedade e qualidade dos a marca”, explica a responsável da Logisfashion, e como tal, se a empresa têxtil antes tinha um maior peso de produção na Ásia, agora é possível equilibrá-lo com uma actividade mais próxima dos centros de consumo europeus, acrescentando-se a complexidade do processo de realocação.

A Mango confirmou que os principais países escolhidos para realocar as produções são a Turquia, Marrocos, Portugal e os Países do Leste, e que outras marcas de moda também estão a seguir esta tendência. “A previsão é que até 2022 o número de unidades fabricadas nas proximidades cresça consideravelmente”, afirma ainda a empresa.

Liliana Labarthe explica que cada um destes países tem vantagens distintas. “A indústria têxtil e do vestuário portuguesa tem sido um aliado para o desenvolvimento das marcas de moda espanholas, sendo actualmente o parceiro produtivo de grandes grupos europeus e americanos”. Nos países do leste, mais concretamente na Roménia, esta “tem aproveitado os seus baixos custos laborais para ganhar destaque no mapa mundial da oferta de moda”, e relativamente à Turquia, “apesar de manter uma situação política tensa com a União Europeia, continua a ser dos principais fornecedores de proximidade para a distribuição de moda no continente europeu”. É de destacar ainda que a Turquia e Marrocos já possuem processos de produção há muitos anos, o que os torna fornecedores de fácil acesso.

Até agora as principais origens das matérias-primas têm sido a China, Indonésia, Malásia, Vietnam ou Taiwan, tendo como principais vantagens o custo, tanto ao nível da mão-de-obra como de produção, especialmente de roupas de baixo custo. É, no entanto, importante que as marcas olhem para as margens e não para o custo.

Apesar de tudo, a responsável da Logisfashion considera que essa realocação proporciona uma maior flexibilidade, porque “a proximidade das fábricas permite às empresas ter mais controlo sobre a sua produção e encomendas, prazos de entrega e custos derivados”, embora tudo dependa do tamanho da marca, do seu posicionamento e da estratégia da sua cadeia de abastecimento.

Leia o artigo completo em El Mercantil (em espanhol)