Num contexto de mercado onde as mudanças acontecem cada vez mais rapidamente, o foco das organizações está, tipicamente, na otimização e digitalização de processos centrados nas áreas core da supply chain, como vendas e produção. Muitas vezes, as áreas de suporte, como a manutenção, IT, RH e outras, que têm igualmente um papel crucial nos resultados das empresas, são deixadas para segundo plano ou maioritariamente desconsideradas.

A manutenção, em particular, é a principal responsável pelo correto funcionamento de toda a infraestrutura dos ativos das unidades industriais, independentemente do setor em que operam. Esta área atua como fornecedor de serviços para as áreas de produção, garantindo a disponibilidade, rendimento e qualidade dos equipamentos, e comercial, assegurando que a fiabilidade dos equipamentos se traduz em entregas atempadas, funcionamento com baixos níveis de stock de produto acabado, e capacidade para alterar prioridades com versatilidade.

Ao mesmo tempo que a área da manutenção desempenha um papel de tamanho impacto para o negócio, observa-se, tendencialmente, uma exigência no sentido de manter os custos destes departamentos o mais baixos possível, quer ao nível dos recursos humanos dedicados, quer no que toca ao inventário de spare parts. Assim, as equipas de manutenção foram-se vendo forçadas a adotar novas estratégias, que foram sendo aprimoradas ao longo dos anos.

Se, na década de 1970, as equipas de manutenção se focavam sobretudo na manutenção corretiva, numa abordagem ad hoc, atuando apenas quando existiam falhas, nos anos 1990, começaram a ser incorporados processos de manutenção preventiva que, cumulativamente com a anterior, considerava também o prolongamento da vida dos equipamentos, por exemplo, trocando periodicamente peças gastas e beneficiando de plataformas de CMMS (computerized maintenance management system). Na década de 2010, foi-se introduzindo a manutenção preditiva, com rotinas de inspeção, análise da condição dos equipamentos e implementação de tecnologia IoT. Embora esta estratégia já permitisse identificar melhor as verdadeiras necessidades de reparação, ainda se tratava de uma análise pouco científica e propensa ao erro humano.

Assim, já na presente década, surgiu a incorporação de meios estatísticos para ajudar a prever efetivamente quando o equipamento irá precisar de alguma intervenção, minimizando a problemática de erro humano. Os softwares de manutenção foram sendo enriquecidos para dar conta deste desafio e a componente IoT continuou a desenvolver-se. Hoje em dia, as empresas com melhor desempenho na área de manutenção são as que tiram maior partido dos recursos tecnológicos e digitais disponíveis.
No entanto, a realidade das empresas portuguesas está ainda muito aquém destes níveis de performance, havendo tipicamente um foco em garantir que as rotinas de manutenção preventiva são exercidas de acordo com o plano e que a manutenção corretiva é célere. Existe um número considerável de empresas nacionais que não possuem qualquer software de apoio à gestão da manutenção (CMMS) no seu dia-a-dia, o que dificulta tremendamente a organização das equipas de terreno e a gestão organizada e com dados do departamento.

Tecnologicamente, o CMMS assume um papel preponderante e, aliados à IoT, começam a aparecer sistemas de Inteligência Artificial para substituir os esforços humanos na previsão de avarias. Soluções como o software Field Service, que integra o ecossistema de Business Applications da Microsoft, são concebidas e implementadas para assegurar a gestão e manutenção de ativos, e contêm em si a inteligência necessária para apoiar todas as estratégias de manutenção descritas anteriormente.

Desde os equipamentos e o seu desdobramento em vários níveis de componentes, passando pelos armazéns e inventário de spare parts, planeamento de ordens de trabalho com planos de manutenção preventiva e preditiva, e até aos recursos humanos e respetivas competências e disponibilidade, todos os aspetos são analisados e considerados, coexistindo num sistema inteligente e, acima de tudo eficiente.

Com este tipo de aplicação, quer os departamentos de manutenção, quer a própria empresa, passam a poder gerir mais organizada e metodicamente toda a sua atividade de manutenção, contribuindo para suportar a evolução das suas estratégias e ultrapassar os grandes desafios com que estas equipas se deparam.

Posto isto, a pressão que recai sobre a área de manutenção das organizações pode ser mitigada. As oportunidades que surgem com a transformação digital não são exclusivas para as vendas ou a produção, e está na hora de tirar partido delas de forma transversal e consertada, para que todo o ecossistema das unidades industriais esteja perfeitamente oleado e também as operações de manutenção possam cumprir e contribuir para o sucesso e sustentabilidade dos negócios.

Paulo Azevedo, Business Process Improvement Lead | Bizdirect