O Afeganistão é uma região com notoriedade geoestratégica significativa desde o seculo I a.c. com a antiga rota da seda. Hoje, em pleno seculo XXI a nova rota da seda “One Belt One Road” continua a colocar o Afeganistão num tabuleiro geoestratégico interessantíssimo, com a fronteira com a China a ser um ponto quente na relação dos vizinhos, ou não fosse existir um rastilho chamado “uigur”.

Para abordar primeiro a questão de assegurar o sucesso do projeto “One Belt One Road”, a China precisa de um Afeganistão controlado, e seria estranho a segurança do País ser garantida por uma superpotência rival que recusou integrar o projeto “One Belt One Road”.

Quanto ao tratar-se de um tabuleiro geoestratégico, esta região está repleta de tensões, a China e a Índia têm um ódio de estimação, e a Índia e o Paquistão também não são os melhores amigos, e ao que consta o Paquistão esteve na génese da criação dos estudantes de teologia, até porque o Afeganistão não era muçulmano, mas sim de influências Budistas e Hindus. Toda esta instabilidade é histórica, muito por força do velho ditado “dividir para reinar”, porque por um lado o território não tem muito para oferecer e tem uma população constituída por tribos, por outro o território, pelo jogo de poderes estratégicos externos, cada vez que nele entra uma superpotência, a superpotência rival faz oposição, em apoios constantes a tribos rivais, gerando a discórdia, propositadamente.

Não seria difícil de imaginar um Afeganistão desenvolvido, independente, criador de riqueza, e a cereja no topo do bolo, com uma posição geoestratégica incontornável, teríamos como resultado um território forte, basta lembrarmo-nos que as redes sociais foram inundadas de fotos de jovens senhoras a passearem nas ruas da capital Afegã com trajes ocidentais, muitas das fotos são efetivamente verdadeiras e correspondem ao período mais negro da Historia da Europa. Nos anos 30 e 40 a Europa estava mergulhada em ditaduras e o Afeganistão apresentava níveis de desenvolvimento extraordinários, existindo liberdade para as mulheres, liberdade de associativismo, níveis de ensino livres para as mulheres, assembleia, governo e imagine-se eleições livres assentes numa Constituição. Este desenvolvimento durou até aos anos 80, momento em que existe um paradoxo histórico como tantos outros, é o momento em que os estudantes de teologia são criados e incentivados em território vizinho com o apoio dos EUA, e infiltram-se na sociedade pachtuns, de forma a fazer uma revolução ideológica, o resultado é demais conhecido.

Quando lemos sobre governos de estados que não encaixam nos critérios das democracias ao estilo ocidental, existe sempre um ponto em comum, o momento em que caiem! Espero que a China não esteja a cometer um erro estratégico irreversível com o pretexto do sucesso do projeto “One Belt One Road”, ao estender a sua influência no Afeganistão.

Como diz o historiador Rui Ramos, “O Afeganistão não é um cemitério de Impérios.”