No último ano e meio, o Governo e os meios de comunicação social têm centrado toda a sua atenção na pandemia de Covid-19, o que já não se entende numa fase em que, graças ao trabalho fantástico desenvolvido no processo de vacinação, a taxa de mortalidade pela doença é cada vez mais reduzida e muito menor à de tantas outras enfermidades, como o cancro.
O que me parece particularmente grave é que este assunto continue a dominar todas as atenções, quando a situação da economia se agrava a nível mundial, o que obviamente trará efeitos à nossa estabilidade financeira.

Por um lado, todas as regras europeias para impedir o crescimento da dívida pública e do endividamento das empresas foram suspensas em favor da sobrevivência das economias, das empresas e do emprego. Acontece que, por exemplo, nos Estados Unidos já se fala em défices de triliões de dólares. É claro que as economias deficitárias são financiadas por empréstimos em cima de empréstimos, mas não podemos esquecer que estamos a competir com economias com superavit, como a chinesa.
A solução seria um corte gigantesco nas despesas dos Estados, mas tal conduzir-nos-ia a uma Grande Depressão, semelhante à que se viveu nos Estados Unidos em 1929 e que se prolongou por toda a década de 1930.

O mundo começa a enfrentar problemas de que já não se recordava, como o aumento da inflação, que se torna gravíssima quando vivemos uma grave crise energética mundial. Isto quer dizer que, muito provavelmente, já no próximo ano, estaremos a braços com uma subida dos juros, que afetará empresas e pessoas, que terão mais dificuldades em cumprir os seus empréstimos.

A falta de matérias-primas, os preços elevados dos fretes marítimos a um nível nunca visto, a logística de colocação de contentores no mundo num estado caótico e a falta de mão-de-obra qualificada são alguns dos fatores que têm contribuído para a subida da inflação e Portugal não é poupado, bem pelo contrário.

A falta de mão-de obra qualificada é, no meu entender, particularmente preocupante quando notamos que faltam trabalhadores especializados em áreas como carpintaria, canalização, transportes, por serem profissões vistas como “menores”. Enquanto não conseguimos transformar uma economia com trabalhadores sem qualificação numa economia de colaboradores especialistas, com melhores salários, estamos sujeitos a uma evolução precária.

No nosso setor, é certo que economias em depressão conduzem muitas vezes ao crescimento do setor logístico em outsourcing, já que as empresas se veem obrigadas a reduzir os seus custos. No entanto, a qualidade nesta área é crítica e paga-se.

Os Portugueses têm motivos para se preocuparem e não podem deixar-se envolver em campanhas de distração dos assuntos que efetivamente terão mais impacto nas suas vidas.

Bruce Dawson, Chairman | Grupo Garland