Com os vários confinamentos, a limitação de horários de abertura de lojas e a limitação do número de clientes no interior das lojas físicas, as maiores insígnias do retalho mundial estão a abrir espaços físicos no interior das grandes cidades, ou mesmo a transformar lojas existentes, para adotarem o conceito de dark store: uma loja convertida num pequeno armazém como centro de preparação das encomendas online (fulfillment centre). Qual o efeito deste conceito na estrutura de custos do canal online (fulfillment costs)?

Até agora, o ambiente do e-logistics tem sido determinado por vários fatores:

  • Pequenas quantidades por encomenda: entregas de pequeno volume, artigos vendidos à unidade de venda, em comparação com a entrega tradicional nas lojas físicas feita em formatos volumosos e homogéneos.
  • Amplitude e profundidade do sortido: o canal online possibilita um sortido mais alargado que o tradicional.
  • Tipo do sortido: verifica-se o aumento da venda online de bens de consumo imediato, a conveniência.
  • Entregas em 24h ou menos: implica que o stock esteja o mais perto possível da procura, o sortido deverá estar mais próximo do consumo.
  • Política de devoluções.

Até à pandemia, têm sido implementadas várias configurações para a rede logística do canal digital:

  • O centro logístico central envia as mercadorias para um hub regional, situado mais perto do meio urbano.
  • A partir deste, as encomendas já preparadas podem ser entregues diretamente ao domicílio do cliente final (direct delivery) ou então encaminhadas para uma loja física da cadeia, como ponto de recolha (pick-up point).
  • A preparação da encomenda pode também ser feita na loja física da cadeia a partir do stock do linear de loja.

O termo dark store tem origem no Reino Unido com a Tesco que criou pequenos armazéns no meio urbano totalmente dedicados à preparação das encomendas do canal online. Na realidade, o conceito tem origem no período antes da pandemia, em particular na distribuição em França, com o aparecimento de pequenos locais dentro das grandes cidades como pontos de recolha das encomendas pelo consumidor em substituição da tradicional entrega ao domicílio. Durante a pandemia, as grandes cadeias têm desenvolvido este conceito com a ideia de colocar autênticos armazéns de distribuição online no interior dos grandes centros urbanos de modo a reduzir o tempo de entrega aproximando o stock do consumo final.

O que são as dark stores:

  • Espaços físicos dentro das grandes cidades, preparados e organizados como uma loja comum, com corredores e prateleiras e artigos no linear, mas totalmente dedicadas à preparação das encomendas online e distribuição para o cliente final; o projeto de loja não necessita da tradicional linha de checkouts nem das sinaléticas de promoções e preços.
  • Os pickers preparam as encomendas online às unidades de venda e são já usados sistemas de automação para esta preparação.
  • Como estes armazéns não estão abrangidos pela regulamentação de horários de abertura de loja ao público, a preparação das encomendas pode ser feita durante a noite e as entregas ao domicílio no decorrer do dia.

O conceito permite desenvolver uma rede de pequenos armazéns no interior dos centros urbanos, tirando partido da proximidade do stock aos clientes e que permita reduzir o tempo de entrega. A entrega na “última milha” pode ser feita por pequenos veículos de emissões zero mais sustentáveis do que os tradicionais camiões.

As principais vantagens das dark stores passam por:

  • Aumento da oferta: um sortido de maior amplitude, o qual nem sempre é possível dispor em toda a rede de lojas físicas da cadeia, por diferentes tamanhos do linear.
  • Operação de loja: à medida que o negócio online cresce e a preparação das encomendas é feito a partir do linear da loja física, verifica-se nos corredores da loja o congestionamento com a circulação dos clientes.
  • Visibilidade e gestão do stock: sendo a operação da dark store totalmente dedicada ao canal online, permite uma melhor gestão dos níveis de stock.
  • Eficiência na preparação das encomendas: introdução de tecnologias de automação permitem o aumento das produtividades e melhor rentabilidade da operação.
  • Operação 24/7: estes pequenos armazéns, embora situados no meio urbano, não estão sujeitos aos horários de abertura de loja ao publico, logo permitem abranger uma grande amplitude de “janelas” de entrega ao cliente final.
  • Proximidade do stock às zonas de maior venda online.

Muitas outras vantagens poderão ser apontadas. Mas seguramente, que a rentabilidade do e-commerce depende em grande parte como serão ultrapassados os desafios logísticos da entrega ao domicílio, mas sobretudo da gestão eficiente dos custos do atendimento (fulfillment costs). São os custos relacionados com a preparação e a entrega da encomenda ao cliente final, incluindo entre outros, o custo da encomenda, a operação de receção e gestão de stocks, a preparação das encomendas, o custo de transporte e entrega, custo de devolução e também o custo do imobiliário logístico (logistics real estate).

A rentabilidade total do canal online com esta solução, deverão ser analisados segundo um trade-off de custos: os novos custos da dark store (aluguer ou custos de imobiliário dos espaços, custos FSE, de pessoal, custos de transporte e entrega e outros), terão que ser analisados com a alternativa da correspondente redução de custos da solução “tradicional” do abastecimento online: a preparação das encomendas a montante no armazém central ou regional, ou preparação na loja física, que funciona como pick-up point ou ponto de distribuição ao domicílio.

Um outro aspeto estratégico a ter em conta, é a concorrência por posições de espaços entre as cadeias do retalho para a implementação de lojas físicas, que esteve sempre presente na gestão do negócio. A massificação do conceito de dark store vem alargar esta competição por espaços no meio urbano, mas também pode oferecer oportunidades aos projetos de cooperação entre as cadeias e mesmo novos tipos de serviços para Operadores Logísticos como novo canal de entregas.

Manuel José Gomes | Head of Warehousing & Transport | SALVESEN Logística