Através de um estudo realizado em Portugal, a My Nametags apurou a relação dos portugueses com o ciclo de vida do que se veste, traçando um panorama nacional dos hábitos e preferências. O intuito é sensibilizar para a necessidade de reutilização: compra-se cada vez mais e (re)usa-se cada vez menos. Vejamos tudo o que não vem na etiqueta e seria importante “modeficar”.
A indústria têxtil é considerada uma das mais poluentes, desde a extracção e produção de matérias-primas, fabrico, transporte e uso final. Impulsionados por preços cada vez mais baixos e pela velocidade com que a moda chega aos consumidores, compra-se cada vez mais e (re)usa-se cada vez menos.
Os impactos ambientais sentem-se sobretudo ao nível do consumo de água, da erosão dos solos, da emissão de CO2 e dos resíduos e desperdícios resultantes de todo o ciclo de vida deste tipo de produtos. Mas os impactos também são sociais. O número de colecções aumentou de duas por ano (Primavera/Verão e Outono/Inverno) para 50 a 100 mini colecções. É a chamada “fast fashion”.
Salvar o ambiente é preciso…
Segundo o Parlamento Europeu, o vestuário, o calçado e os têxteis para uso doméstico contribuem para a poluição da água, as emissões de gases com efeito de estufa e os aterros. A mesma entidade alerta também para a necessidade de redução dos recursos naturais consumidos na confecção dos mesmos, pois se continuarmos a explorar os recursos naturais como o fazemos agora, em 2050 necessitaremos dos recursos de três planetas Terra para satisfazer as actuais necessidades.
Pensando que o prolongamento do ciclo de vida da roupa através da reutilização é uma forma de contribuir para a salvaguarda do ambiente, é interessante analisar que mais de metade dos inquiridos neste estudo (52%) doa a instituições de solidariedade e caridade ou lojas de segunda mão a roupa que já não serve aos seus filhos, 45% oferece a familiares ou amigos e apenas 6,72% deita a roupa fora.
No que toca à duração e uso da roupa pela mesma pessoa, maioritariamente a roupa das crianças dura um ano lectivo e 48% dos pais confessa que, por vezes, compra roupa maior para que dure mais tempo, sendo que a principal razão para a substituição dos produtos é o facto de deixarem de servir. Os produtos que são mais vezes substituídos são os sapatos (28,%), seguidos das calças/saias (27%).
… E reutilizar também
Apesar de facilmente darem a roupa que já não usam, na hora de comprar, a aquisição em segunda mão não tem ainda grande adesão ou expressão em Portugal, tanto para adultos como para as crianças.
Metade dos inquiridos (46%) afirma nunca ter comprado roupa em segunda mão para si e 68% também não o faz para os filhos. Quando questionados sobre as razões para não aderirem a esta prática, a facilidade em comprar artigos novos (25%) e a vontade de ter as últimas novidades (30%) acabam sempre por falar mais alto.
Para estes números muito contribui a tendência da fast-fashion, onde todas as semanas saem novas colecções, muitas delas exclusivas, o que entusiasma ainda mais o consumidor a comprar por impulso e no momento.
Esta é uma tendência que está bem explícita no estudo: mais de metade dos inquiridos (58%) revelou que tem roupa no armário que nunca utilizou. No entanto, importa lembrar que para produzir uma t-shirt são necessários 2700 litros de água, água potável suficiente para o consumo médio de uma pessoa durante dois anos e meio. Dos 8% que compram quase sempre ou regularmente para si ou para os filhos, aponta como principais razões o facto de pouparem dinheiro (34%) e ser mais sustentável (19%).
Para os portugueses dar a roupa que já não utilizam é algo natural. Por outro lado, apesar do enorme aumento da consciência ambiental e do mercado da roupa em segunda mão ter uma margem de progressão e crescimento muito aliciantes, inclusivamente através de diversas App e sites desenvolvidos com esse objectivo, Portugal ainda tem um grande caminho a percorrer.
Notas técnicas do estudo O inquérito foi concebido pela My Nametags com o nome “Ciclo de vida da roupa“ e executado de forma online pela Markup entre Março e Abril de 2021. Foram obtidas no total 1041 respostas válidas sendo que 85% dos participantes tem um ou dois filhos.